quarta-feira, agosto 02, 2006

No início... foi a escola (cont.)

Vou continuar a narrar a minha aventura exactamente do ponto onde a deixei.
"Encosto-me a um canto do balcão e começo laboriosamente a encher todas as quadrículas de letra de imprensa e números bem desenhados. Passado um bocado, detenho-me. Escalão? Indíce? Fico sem saber se devo ou não chamar a funcionária que, entretanto, iniciou uma conversa com uma das suas colegas acerca de um casaco que comprou por uma «bagatela». Enquanto decido o que fazer, a porta range e eu olho para ver quem entra. É uma mulher nova, alta, de cabelos platinados e com um andar desembaraçado. Nos pulsos tilintam-lhe várias pulseiras de ouro. Encosta-se ao balcão, mesmo ao meu lado, e eu interrogo-me se, subitamente, fiquei invisível.
- Dona Lucinda! - chama ela.
A Dona Lucinda, que parece então ser o nome da senhora que me atende, vira-se com um grande sorriso estampado no rosto - Oh sô tora Margarida! Tenho mesmo aqui a listagem de alunos que me pediu - e prontamente vasculha, na imensidão de papéis que adorna a sua secretária, a tal lista. A sô tora Margarida, minha futura colega, tamborila com os dedos no balcão enquanto aguarda. Eu observo-a, subrepticiamente, e penso que nunca terei aquela figura esbelta, nem aqueles cabelos impecavelmente lisos, nem aquelas unhas bem tratadas. Ao pé dela sinto-me desleixada e desgrenhada. Volto a olhar para as minhas Levis e ponho em dúvida se devo ou não trocar as minhas roupas.
- Aqui está, sô tora! - exclama triunfantemente a Dona Lucinda, agitando um papel - Credo, é tanta papelada que uma pessoa até se perde.
- Muito obrigada - agradece a outra, pegando na listagem. Roda nos seus saltos altos e abre a irritante porta que volta a ranger de uma forma desagradável.
Regresso aos meus próprios papéis e lembro-me que não sei o que é escalão e índice - Por favor - chamo - não sei como preencher esta parte.
A Dona Lucinda abeira-se do vidro e eu aponto-lhe a minha dúvida - Ah! Pode deixar em branco que depois nós preenchemos.
Apetece-me perguntar o que é efectivamente o escalão e o índice mas decido não fazê-lo. Acabo de completar o resto e entrego tudo, empurrando delicadamente os papéis por baixo do vidro. Ouço atentamente mais algumas explicações sobre documentos que preciso de entregar e no final é-me indicado o Conselho Executivo como sendo o meu próximo destino. Estranho a designação "Conselho Executivo" porque, se bem me lembro, no meu tempo, chamava-se Conselho Directivo. Marcho obedientemente rumo à minha nova paragem e encontro mais uma porta resmungona que abre para um átrio quadrado. Num ápice, diviso vários pormenores: ao fundo, uma secretária com uma funcionária; sobre o lado direito, uma porta fechada com a inscrição "Reprografia", seguida de uma outra sem nenhuma placa informativa. Do lado esquerdo, uma porta entreaberta - o Conselho Executivo - e logo de seguida uma "Sala de Reuniões". Espalhados pelo meio do átrio existem vários painéis e encostados às paredes alguns bancos corridos de tabuinhas de madeira. Há algumas vitrinas vestidas de listas que um grupo escasso de alunos (presumo eu) se entretém a observar. Passo sem ser notada e abeiro-me da funcionária começando por dizer quem sou antes que também ela me confunda com uma aluna. Ela diz-me que eu posso entrar e acrescenta que hoje tem sido um corropio com os novos professores a apresentarem-se. Disfarçadamente, olho para um grande relógio que pende de uma das paredes e que marca dezasseis horas e doze minutos e percebo a razão pela qual naquele momento sou a única a apresentar-me; todos os outros devem ter ido logo pela manhãxinha quando eu estava ainda a dormir."
A minha ida ao executivo fica para depois.
Love and light!

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Oh! Já estava todalampeira a imaginar a conversa no Executivo! Mas, gostei. Tenho a impressão que virei espreitar para ver as cenas dos próximos capítulos. Escreves muito bem!
Beijinho grande, Luísa!

11:25 da tarde  

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