quarta-feira, maio 16, 2007

Blogosérie interactiva - 9m 32s - Episódio 3

O meu blogamigo Capitão-Mor iniciou mais uma blogsérie, desta vez interactiva. O esquema é simples: ele escreveu o primeiro episódio e passou a continuação da história ao Lois que escreveu o segundo episódio. O Lois, por seu turno, passou a história para mim e eu apresento hoje o terceiro episódio. Espero estar à altura dos meus antecessores.

(...)- Mas que raio de merda é esta? - grita o Augusto Luís já lívido - Agora também já atiram pedras à janela?
O Ferreira corre até ao extremo da sala e encosta o nariz ao vidro, numa tentativa desesperada de perceber o que é que está a acontecer. Os breves segundos que decorrem, parecem a Augusto Luís, impaciente por natureza, longos minutos - O que foi? O que foi?
O Ferreira vira-se, com uma expressão indecifrável estampada no rosto.
- Mas o que é que se passa, porra? Diz de uma vez! - implora o amigo já em desespero.
- É granizo, pá! Está a cair pedra! Vê lá se te acalmas que já me estás a pôr os nervos em franja!
Ele engole em seco e deixa-se cair pesadamente em cima do sofá. Saca de mais um cigarro e com as mãos trémulas acende-o, inspirando profundamente.
- Vê lá se me queimas a porra do sofá!
- Cala-te lá com o sofá! Põe é a merda do DVD!
O Ferreira apanha o comando do chão que, entretanto, tinha ido pelos ares, coloca de novo o disco no aparelho e, como se estivesse pronto para disparar um revólver,aponta o comando ao DVD. Um silêncio sepulcral invade a sala e o medo que se apossa de ambos é quase palpável. O ecrã da televisão adquire um tom azulado e o Ferreira opta por sentar-se ao lado do Augusto Luís, prevenindo-se já contra algo que possa ver que lhe roube o equilíbrio. A primeira imagem que aparece é de uns pés e a câmara detém-se num primeiro plano, quase obsceno, naqueles pés grandes, descuidados, de unhas mal cortadas, dando tempo ao Ferreira e ao Augusto Luís para ficarem boquiabertos - Uns pés?!! - exclama o Ferreira, sentindo-se enojado - Mas o que significa isto?
O Augusto Luís atira-lhe um olhar mortal que o silencia de imediato. A câmara sobe lentamente e aparecem agora umas pernas magras, peludas, o que adensa ainda mais o clima de estupefacção que paira no ar.
- Que merda é esta? Um filme pornográfico de quinta categoria? - vocifera o Ferreira cada vez mais irritado.
A filmagem não dá tempo para mais nada porque logo a seguir a câmara começa novamente a subir e o ecrã é literalmente invadido por uns boxers brancos, semeados de ursinhos castanhos com laços vermelhos em redor dos pescoços.
No meio de todo aquele nervosismo, o Augusto Luís é assolado por um ataque de riso - Eh, eh, eh! Boxers com ursinhos!
É a vez do Ferreira se insurgir contra os comentários e lhe dar uma cotovelada. Ele volta a ficar sério, dá uma passa no cigarro que ficara meio esquecido entre os dedos e fixa o olhar naquela imagem estupidamente absurda de uns boxers a preencher todo o ecrã de uma televisão. Subitamente, a câmara desloca-se abruptamente e a imagem seguinte mostra um homem em tronco nu, de olhar assustado, com uma placa pendurada ao pescoço.
O Augusto Luís engasga-se com uma baforada de fumo e é acometido por uma tosse violenta, enquanto o Ferreira se levanta num pulo e corre em direcção à televisão - Que brincadeira vem a ser esta?
- Sai da frente, porra! - grita-lhe o Augusto Luís que, entretanto, também se levantara.
- Mas...mas... - gagueja o Ferreira - Aquele é... é...
- É o Reis!
- Foda-se, é o Reis! - repete o Ferreira, com um ar aparvalhado.
Pelas cabeças dos dois cruzam-se mil pensamentos. O Augusto Luís, sempre desconfiado, conjectura se não se tratará de uma partida; o Ferreira, mais crédulo por natureza, e com experiência em casos semelhantes, depressa se apercebe que estão diante de uma situação real. O pobre Reis, amedrontado, parece apático, confuso, olhando em seu redor como se procurasse uma saída para aquela situação constrangedora. Enquanto os dois se encontram imersos nos mais terríveis pensamentos, a imagem muda mais uma vez e agora o que aparece é o próprio Ferreira, descomposto, com uma caipirinha numa das mãos e abraçado a uma morena semi-nua - Olha, olha - grita - Sou eu!
- Claro que és tu! - atira o Augusto Luís começando a sentir suores frios - E aquele é o Reis - acrescenta, apontando para uma figura que salta de um lado para o outro em cuecas e meias. Aos poucos e poucos, todos acabam por aparecer no écrã - o Lemos, o Fonseca e o próprio Augusto Luís, completamente enrolado numa loira oxigenada. De repente, o écrã volta a ficar escuro e umas palavras surgem como por magia: "TEMOS O REIS. DECIFREM O ENIGMA. ENTRAREMOS EM CONTACTO."
O Ferreira e o Augusto Luís não aguentam mais; o primeiro dá um murro na televisão como se ela fosse culpada de alguma coisa e o Augusto Luís caminha furiosamente de um lado para o outro, esmaga a beata do cigarro que estivera a fumar no cinzeiro enquanto repete sem parar - O que é que vamos fazer? O que é que vamos fazer?
- Chantagem, é chantagem! - exclama o Ferreira - E ainda por cima têm o Reis! Coitado do Reis!
- Temos que entrar em contacto com os outros - lembra o Augusto Luís - Eles têm que saber. Vou ligar-lhes!
O Ferreira avança, decidido, em direcção ao amigo e arranca-lhe o telemóvel das mãos - Nada de telefonemas!
O Augusto Luís olha para ele, surpreendido, mas acata a ordem e o Ferreira devolve-lhe o telemóvel e logo de seguida avança para o leitor, retira o DVD cuidadosamente e guarda-o religiosamente no envelope - Vamos embora! - diz, tomando o comando da situação.
Saem em direcção ao patamar, a porta bate com estrondo e chamam o elevador. Entram e olham estupidamente para os seus rostos reflectidos pelo espelho enquanto aguardam que a descida comece o que parece durar uma eternidade. Quando finalmente a porta se começa a deslocar, alguém a trava com o braço e ela volta a recuar. Os dois voltam-se como se tivessem molas nos pés e no elevador entra uma mulher de óculos escuros que lhe cobrem parcialmente o rosto. A descida inicia-se, finalmente, e de repente, a voz dela corta o silêncio pesado que se instalou - São residentes?
Eles são apanhados de surpresa e é o Ferreira que acaba por falar - Como?
- Se moram aqui...
- Ah! - exclama ele - Eu moro.
Ela tira os óculos escuros e estende-lhe uma mão delgada - Muito prazer! Sou nova no prédio. Chamo-me Amélia.
O Ferreira ganha rapidamente a sua habitual desenvoltura e corresponde ao cumprimento - Muito prazer! Ferreira - aponta para o amigo e acrescenta - o meu amigo, Augusto Luís.
Ela dirige o olhar para ele e estende-lhe igualmente a mão que ele aperta, demorando mais tempo do que o estritamente necessário. Sente o leve aroma que se solta dos cabelos escuros e compridos, detém-se nos olhos esverdeados e ligeiramente rasgados e, subitamente, é como se tudo à sua volta desaparecesse, o DVD, o pobre Reis, o Ferreira e só restassem aqueles olhos que o fitam insistentemente. Sente-se fora do tempo e do espaço, capturado por aquela magnética presença."
Pormenor das imagens impressas na placa que o Reis tem pendurada no pescoço



Tenho agora que passar a bola a alguém; não vou pensar muito. Será do Capitão-Mor o privilégio (ou não) de tentar desembrulhar esta história.

Love and ligth!
O episódio quatro já está no ar!

22 Comments:

Blogger LoiS said...

Ai a Amélia!

Quem tocou à campaínha e quase arrombou a porta?

Terá sido a Amélia?

Bom, muito bom !

Bjs

2:54 da tarde  
Blogger Capitão-Mor said...

Estou a ver que decidiste colocar os meus telentos de detective à prova!!! :)

Espero que a minha continuação vá de encontro ao que imaginaste ao colocar esta charada fotográfica...
Quem será a Amélia?

7:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Muito bem amiga!!!
E o mistério continua!!!
Bjs

8:10 da tarde  
Blogger foryou said...

Aqui está uma bela forma de dar utilidade às malditas correntes dos blogs. Só quero ver como ele se vai desembrulhar desta :)

10:53 da tarde  
Blogger Cristina said...

Tenho andado a seguir a história iniciada pelo Capitão-Mor... excelente continuação. Estou sauper-emplogada para saber como é que ele vai "descalçar esta bota".

Beijinhos

11:10 da tarde  
Blogger CaCo said...

Gostei Jade. Achei o aprecimento da Amélia uma delícia. Cabe ao Capitão "usá-la" ou "abandoná-la" no enredo da estória.

9:06 da manhã  
Blogger CaCo said...

*aparecimento, em vez de "aprecimento"

(palavra horrível, podia ter escolhido outra...)

10:52 da manhã  
Blogger Teresa Durães said...

gostei do que li

bom dia

11:01 da manhã  
Blogger Unknown said...

Vim aqui parar através do Capitão e adorei a forma como escreveste este capitulo, a introdução da Amélia é bestial, muito bom, parabéns, prometo voltar com toda a certeza

1:03 da tarde  
Blogger AnadoCastelo said...

Adorei a volta que deste à história. Está fantástica. Também escreves muito bem e cá virei mais vezes.
Beijinhos

3:55 da tarde  
Blogger Prof said...

Obrigada a todos pelos comentários. Ainda bem que gostaram.
Beijos!

4:01 da tarde  
Blogger Maríita said...

Olá Jade,

Que escrevias bem, já tinha tido oportunidade de ver ao longo do tempo no teu blog, mas que conseguias imitar à perfeição o vernáculo daqueles dois e ainda passar a batata quente ao Capitão, sinceramente ultrapassou todas as minhas expectativas.

Beijinhos

4:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro(a)s Bloggers,


A NEGRA TINTA EDITORIAL tem o grato prazer de lançar a obra “CÂMARA ESCURA (revelação), do poeta Joaquim Amândio Santos, com prefácio de António Lobo Xavier.

Sendo esta obra mais um trabalho nascido de um escritor cuja carreira foi lançada na blogosfera, a exemplo das edições previstas e possíveis no futuro próximo desta editora, será importante contarmos com a honra da presença de bloggers nas diversas acções de lançamento da obra.

Nesse sentido, solicitávamos indicação de morada ou preferência por receber o convite por mail para negratinta@gmail.com, bem como qual dos eventos escolhem para nos honrar com a sua presença.

Lançamento e Apresentações:

31 de Maio Funchal
8 de Junho Penafiel
14 de Junho FNAC Norteshopping, Porto
28 de Junho FNAC Chiado, Lisboa
5 de Julho FNAC Coimbra


Aproveitámos ainda para solicitar que qualquer manuscrito que entendam colocar à consideração desta editora para possível publicação, seja enviado por este mail, ao meu cuidado, estando previsto editarmos até 4 obras, nascidas na blogosfera, até Março de 2008.

Saudações Literárias,

Nélia Maria Pereira
Edições e Comunicação
NEGRA TINTA EDITORIAL

4:48 da tarde  
Blogger Tati said...

adorei, muito bom. claro que na vida do ferreira e dessa gangue tem que ter saia envolvida....
parabéns

5:08 da tarde  
Blogger Gi said...

E agora qual será o "Fabuloso destino de Amélia" ? :) Gostei da continuação. Deixo um beijinho e espero que o capitão continue a onda de mistério. Beijinhos

10:51 da tarde  
Blogger Sandokan said...

Eu sou o GUERREIRO LUZ , porque sonho. Sem sonhos, as pedras do caminho tornam-se montanhas, os pequenos problemas são insuperáveis, as perdas são insuportáveis, as decepções transformam-se em golpes fatais e os desafios em fonte de medo.

Liberta a tua criatividade e acredita, também, no GUERREIRO LOBO. Tu és uma pérola única no TEATRO DA VIDA.

Não vivo de pesadelos. Tenho sonhos como qualquer ser humano que procura a luz que nos guia. A vida envia-nos muitos sinais, basta estar atento e procurá-los à nossa volta.São muitos e enviados das mais diversas maneiras. Por isso sou um GUERREIRO LOBO que, mantendo a calma, sabe esperar e nunca ter medo.

Abri há pouco a janela
do meu quarto minguado,
entrou o vento
soprando forte
trazendo uma trova
e uma canção
com um refrão tão triste
que diz
que nunca mais te encontrarei.

Parti como um louco,
gemendo e chorando
e à tua porta bati.
Apareceste-me
bela e singela
com a tua leve candura
na face tinhas a lágrima da
desventura.

Soltei um grito de pânico,
que atravessou o oceano
e num rochedo fez eco
levado pelos anjos
que partiram para sempre.

Grito agudo e
lancinante
que transporto sempre no peito
deixando amargas liras
e a saudade de te ver.
Perdi-te meu AMOR.

Meus amigos e amigas: Aceitai o medo como que ele faça parte integrante das nossas vidas. Aceitai-o, mas não tenhais receio de AMAR. Aceitai especialmente o medo da mudança, mas saibamos caminhar sempre em frente apesar do bater do nosso coração nos lançar um grito lancinante como que a dizer: VOLTA PARA TRÁS!
As trevas da noite caem, mas a manhã volta de novo ainda mais brilhante.
Manteremos viva a nossa ESPERANÇA.

Com especial carinho para ti, dedico este meu poema.

Sou um GUERREIRO LOBO que habita as paragens das caçadas eternas do bosque da felicidade, o "nosso" :

http://lusoprosecontras.blogspot.com

Vinde até ele ouvir a minha história. É uma história de um Povo, e o Povo é simples como eu.

Deixo-te aqui, neste teu cantinho maravilhoso, um grande abraço de Amizade.

SANDOKAN

7:11 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

AMIGA, SO AGORA VOLTEI AO TEU BLOG! O TEMPO PASSA DEPRESSA... ADOREI! ATENDESTE O MEU PEDIDO E A TUA HISTÓRIA É A MINHA. QUE MAIS DIZER?! SAUDADES. BJS. MAIA

4:15 da tarde  
Blogger A Professorinha said...

Olha uma corrente tão interessante... Gostei...

Beijinhos

10:06 da tarde  
Blogger o alquimista said...

Os teus pés são navegantes na espuma, o teu cabelo dança em descuidada ironia, suave viagem de ondulante onda em tua boca, duas sílabas sopradas em mágica melodia…

Bom fim de semana

Doce beijo

11:19 da tarde  
Blogger Capitão-Mor said...

Vai preparando o fôlego para leres o episódio 4 que publicarei amanhã. Está um pouco longo! :)
E que tal submetermos esta historieta para essa Negra Tinta Editorial????

8:47 da tarde  
Blogger Barão da Tróia II said...

Grande saga que aí vai, boa semana.

2:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Vai dar Best seller...vai vai ;);)

11:12 da tarde  

Deixe um comentário

<< Home