terça-feira, agosto 08, 2006

Perseguidos?

Vivo num prédio e há coisa de seis meses um apartamento que estava para alugar foi arrendado por dois fulanos. Colocaram cortinas às cores nas janelas e na varanda penduraram um pano com risquinhas de várias tonalidades. Um dia, um vizinho meu, quando um deles ia a sair do prédio comenta «não enganas ninguém, não» e eu fico a pensar se ele disse aquilo por achar que eles são homossexuais. Devo confessar que até aí nunca me passara pela cabeça que eles fossem homossexuais mas num precipitar de revelações, um dia, quando assistia ao telejornal lá estava a tal bandeirinha às riscas numa "parade" de orgulho gay. Continuei a vê-los exactamente da mesma forma; não tenho preconceitos nenhuns acerca disso. Passados uns tempos, comecei a aperceber-me de um movimento inusitado no prédio, a porta de entrada sempre aberta e sempre que eu chegava de carro parecia que havia sempre algum homem à entrada, de telemóvel na mão à espera de subir até ao dito apartamento. O prédio começou a estar sujo, cheio de beatas no chão e um dia encontramos o elevador com um cheiro nauseabundo e um dos vizinhos disse que era cheiro de urina. Ora, tudo isto começou a ser atribuído aos inquilinos do 1º andar. Eu questionei-me se seria mesmo assim; os fulanos tinham bom aspecto e eram educados. Comecei a achar que eles estavam a ser perseguidos pela sua orientação sexual, mas lentamente as evidências foram-se acumulando. Já não havia dúvidas que eles recebiam em casa . Marcou-se uma assembleia de condóminos para decidir o que fazer e eu só pensava que tudo isto me fazia lembrar o filme Philadelphia: no fundo, o Tom Hanks não foi despedido por ter sida mas sim por ser homossexual. Aqui, parecia-me que se queria correr com eles do prédio não por estarem a utilizar o apartamento para outros fins que não o da habitação, mas por serem homossexuais. Antevia-se uma assembleia de condóminos escaldante mas a situação acabou por se resolver naturalmente quando surgiu uma placa com «arrenda-se» numa das janelas do apartamento deles. Eles iam sair talvez por sua própria iniciativa ou talvez sob coacção, uma vez que chegou a estar colado um post it no elevador, escrito por um qualquer condómino, a dizer que eles não eram bem vindos. Fiquei com pena porque a mim nunca me incomodaram. Não posso esconder que também a mim me preocupava a porta constantemente aberta e o movimento de pessoas estranhas ao prédio, mas penso que se poderia ter falado com eles ao invés de mandar bocas e fazer ameaças. Note-se que a média de idades das pessoas que vivem no meu prédio é capaz de rondar os trinta anos e quase todos têm formação superior. Parece que a discriminação não é feita só pelos mais velhos ou pelos ignorantes.
Love and light!

4 Comments:

Blogger Xica said...

Oi. "Devorei" o teu blog. Li desde o teu 1º post. Sabes, não sou professora, nem era capaz de ser-qd tinha q apresentar um trabalho ou ler em frente a toda a gente p além de ficar corada faltava-me o ar. Mas em muitas coisas q se passaram contigo eu revejo-me. A roupa, se é adequada ou não, coisas q devia ter dito, coisas q não devia ter dito. O mal é q ainda hoje passados quase 3 anos depois de ter começado a trabalhar ainda nada melhorou.
Bem mas em relação a este teu post. Vivo numa vilazita e mesmo onde estudei nunca convivi c ninguém assumidamente homossexual. Tb não tenho preconceitos em relação à homossexualidade e detesto comentários depreciativos em relação a isso. Tinha um colega q qd falava do assunto era c aceso desprezo e eu costumava dizer q talvez ele não estivesse tão seguro assim da sua orientação p ficar assim tão fora dele. É isso q eu acho. O facto de lá estarem dois homossexuais, a possibilidade de serem vistos c eles poderia suscitar a dúvida nos outros e os teus vizinhos talvez não soubessem encarar a situação da melhor forma. E se alguém tivesse vontade de os defender poderia ser visto como um deles. O preconceito não escolhe idades nem estratos. Acredito q a minha avó (q nem sabe ler) aceita melhor muitas coisas q hoje se passam do q alguns tios e primos meus. Também acho q falar c eles sobre o comportamento deles em relação á higiene e segurança no prédio fosse a melhor das soluções, mas ainda temos um longo caminho a percorrer p aí chegar.
Beijitos.

2:26 da tarde  
Blogger Xica said...

Desculpa o tamanho-não consigo ser sucinta.

2:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá!
Pois é, preconceitos!
A única coisa que eu condeno num certo tipo de homossexualidade, como em qualquer outra coisa, é o exibicionismo. De resto, não tenho qualquer preconceito em me relacionar e ser amigo de um homossexual. Aquilo que conta na relação entre as pessoas, na minha modesta opinião, não é a orientação sexual, nem sequer o sexo, mas sim o carácter da pessoa.
Falas bem amiga e escreves como uma filósofa! E viva a filosofia!
Beijinho Lu

11:21 da tarde  
Blogger AnaCristina said...

Muito sinceramente, acho que faria como esses condóminos. Já vivi num prédio onde o problema era uma senhora que recebia em casa e fez-se o mesmo, cogiu-se a senhora a sair. Acho que não tem a ver com discriminação mas sim com uso impróprio do apartamento e movimentações estrnhas.

12:10 da tarde  

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