terça-feira, junho 12, 2007

By nigth...

Aqueles que me acompanham quase desde o início deste blog sabem que tenho postado vários textos sobre as aventuras de uma professora virtual - a Mel; é minha intenção continuar a história dela, no entanto, como sou uma pessoa muito volátil apeteceu-me começar a postar sobre uma outra personagem - o Ricardo. Não vou dizer mais nada sobre ele; vocês vão descobrindo à medida que forem lendo (se tiverem pachorra....).
"O ambiente era estranhamente eclético e difuso. Havia pessoas completamente diferentes umas das outras: bonitas, extravagantes, perfeitamente normais, feias… de tudo um pouco. À medida que as luzes incidiam em cima dos rostos, podia-se vislumbrar o turbilhão de sentimentos que alguns reflectiam: alegria, euforia, apatia, nostalgia, ou até mesmo tristeza. Aquela era a altura em que todos se tentavam livrar das preocupações da semana ou da rotina do dia-a-dia. Desde há muito que se havia quase institucionalizado este hábito. Durante as noites do fim-de-semana, muitos cometiam actos ou loucuras impensáveis a que não se atreveriam durante a semana. Era uma espécie de ritual que se repetia sistematicamente com a precisão de um relógio afinado. O Ricardo encontrava-se encostado a um dos muitos bares espalhados por aquele lugar, numa atitude displicente. Há vários anos que ele frequentava aqueles locais, mas existiam coisas que continuavam sempre na mesma: gente atraente, mulheres disponíveis, muito álcool e alguma droga. Ele já se sentia desencantado com aqueles velhos costumes que nunca se tinham perdido. Para ele, o tempo estava a começar a passar, mas para quê mudar se ele sempre tinha vivido na noite? Os seus maiores sucessos tinha-os vivido na noite, os seus maiores amores tinham-lhe acontecido na noite e as suas mais profundas tristezas tinham tido como palco a noite. Apesar do seu semblante sombrio, muitas coisas deixavam-no contente: o seu sucesso profissional, o reconhecimento do público, a estabilidade económica, o vasto grupo de amigos mas, no entanto, tudo isso não conseguia preencher um vazio que ele sentia dentro de si. Faltava-lhe alguém especial com quem partilhar tudo isso. Ele tivera muitas mulheres mas nunca se ligara definitivamente a nenhuma. As razões nem ele próprio as conhecia bem. Agora, o tempo começava a passar a correr e cada vez mais as recordações lhe invadiam os pensamentos. As dúvidas e interrogações eram cada vez mais insistentes. Será que tinha dado o rumo certo à sua vida? Se, em determinada altura, ele tivesse agido de outro modo, poderiam as coisas ter sido diferentes? A verdade é que todas as noites, nos mais diversos sítios, ele procurava um rosto. Ao fim de tantos anos, imagens de um passado longínquo, ainda o assaltavam. Por vezes, ele não tinha dúvida nenhuma de que se não fizesse parte de um meio onde grassava a traição, a inveja, a exaltação dos prazeres efémeros, toda a sua vida podia ter inflectido num outro sentido. Ali, os interesses é que faziam girar as relações. Ficava bem conhecer determinada pessoa, era importante cumprimentar aquela outra ou ser visto com aqueloutra. Intimamente, ele desprezava esse tipo de gente. Odiava a hipocrisia reinante em determinados círculos da sociedade. Suspirou e olhou em volta, avistando o Pedro a aproximar-se acompanhado por uma mulher. Ricardo esboçou um sorriso. O Pedro andava sempre acompanhado por raparigas belíssimas.
- Mestre! Como estás? – cumprimentou o amigo, dando-lhe uma palmada nas costas à laia de saudação.
Ricardo retribuiu – Então, tudo bem? – desviou o olhar para a figura feminina ao lado dele e fixou-se nos seus olhos cintilantemente azuis.
- Ah! Já me ia esquecendo de te apresentar – desculpou-se o Pedro – Esta é a Sofia. Este é o Ricardo – acrescentou, virando-se para ela.
Os lábios da rapariga desenharam um sorriso deslumbrante – É um prazer conhecê-lo. Já ouvi falar muito de si.
- Espero que só tenha ouvido coisas boas – disse ele.
- Não és nada modesto, não! – troçou o Pedro. Deu uma olhadela rápida em redor e continuou – Ouve lá, isto já deu o que tinha a dar. E de fossemos até à festa da Cristal?
O Ricardo fez um ar surpreendido – Que festa? Não sei de nada.
- É a festa de despedida do namorado dela – informou o Pedro, ao mesmo tempo que fazia um ar travesso – Como aqui a princesa não quer nada comigo, acho que vou tentar a minha sorte com a Cristal.
- És um safado! – O Ricardo olhou mais uma vez para o rosto perfeito da rapariga, mas desta vez prolongou o olhar até ao corpo dela que estava diminutamente coberto por um vestido – OK, vamos lá até essa festa – Acontecimentos destes repetiam-se quase todas as noites, pensou ele, por isso porquê questionar? Havia sempre alguém que fazia uma festa por este ou por outro motivo qualquer e quando não havia nenhuma razão plausível, arranjava-se uma outra qualquer para comemorar. Às vezes pensava se em alguma ocasião seria capaz de ter uma vida dita normal, do género “nine to five”, mas a realidade é que também nunca tentara. Sempre fora um aventureiro e sempre gostara de viver contra o sistema. Apenas com dezassete anos, viajara sozinho para fora do país, rumo ao Oriente, e tomara contacto com modos de vida e maneiras de ser completamente diferentes daquelas a que estava habituado. Ficara-lhe sempre um fascínio por culturas remotas e gentes distantes, perdidas entre o céu e a terra. Enquanto se entregava a estes pensamentos, o seu amigo Pedro tratava de convidar todas as pessoas conhecidas que passavam a aparecer na festa da Cristal."
Love and ligth!

9 Comments:

Blogger james emanuel de albuquerque said...

Tudo de muito bom gosto por aqui!

Um abraço.

1:31 da tarde  
Blogger foryou said...

Bom texto! Gostei!
Uma nova personagem... hum...

11:50 da tarde  
Blogger Barão da Tróia II said...

Tenho lido e gosto, continua, boa semana

3:19 da tarde  
Blogger A.S. said...

Lindo! Para um primeiro capitulo, está excelente!...


Beijos!

4:05 da tarde  
Blogger o alquimista said...

Ditosos são os amantes ao fim do dia, não deixam sombra na noite, trocam palavras, juras em harmonia, e o encanto floresce à cadência da palavra, explode no peito com fome de beijo…

Boa semana


Doce beijo

5:16 da tarde  
Blogger AnadoCastelo said...

Gostei do teu texto espero que não fique por aqui. Gostaria de ler a sequência.
Beijinhos e boa semana

11:51 da tarde  
Blogger Maríita said...

Tanta gente conhecida que é assim. Têm passado toda a vida à procura de algo que não conseguem definir.

Gostei muito e agora espero que continues.

Beijinhos

P.S. - Lá pelo meu cantinho tens a BlogSérie se tiveres tempo e paciência para ler :o)!

4:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

A "noite" (e as pessoas), continuam a ser um mistéééééério ;)

6:19 da tarde  
Blogger LoiS said...

Gostei do Ricardo, muito credível essa maneira de ser e estar, muito...

Bjs de saudades

12:42 da manhã  

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