sábado, setembro 16, 2006

A música

Hoje de manhã, enquanto ia de carro, deu uma música que eu não ouvia há muito tempo. Não sei o nome da música; é uma daquelas músicas do género “house music”, produzidas por D.Js, com um batuque constante. Essa música trouxe-me à memória o início dos anos noventa e a paranóia das “raves”. Uma das primeiras “raves” em Portugal, aconteceu em Coimbra. Não estive presente nessa mas fui, logo a seguir, a uma que se realizou no castelo de Montemor-o-Velho chamada “Medieval Groove”. Essa noite foi um acontecimento para as gentes da vila de Montemor; concentraram-se nas imediações do castelo a admirar aquela estranha turba que vinha de vários pontos do país para dançar a noite inteira. Escusado será dizer que fiquei fã das “raves”. Fascinou-me o aspecto das pessoas que encontrei: as roupas originais, os piercings, as tatuagens, os penteados, os acessórios… Nessa noite, dancei até o sol nascer e de manhã, com a maquilhagem esborratada sob a luz crua do sol, fiquei genuinamente triste por a festa ter terminado.
Nos anos que se seguiram tornei-me uma frequentadora assídua: usava roupas estranhas, conhecia os nomes dos D.Js mais importantes (um ou outro chegou-me a ser apresentado), na Páscoa ia a todas as festas que normalmente tinham lugar no Algarve e dançava a noite inteira (sem nenhuma ajuda química; não às drogas em toda e qualquer circunstância. Nunca mais me esqueci de uma vez estar cansada e com dores nos pés e de o ter dito a uma conhecida minha que também era frequentadora de “raves”. Ela virou-se para mim disse – Tenho aqui uns comprimidos para as dores dos pés. Eu, ingénua, achei mesmo que ela me ia dar uns comprimidos para as dores. Só depois de ver o ar cúmplice dela é que percebi de que tipo de comprimidos estava ela a falar). Quando estava em casa dos meus pais e queria ir a uma dessas festas despedia-me, invariavelmente, da minha mãe com um «espera-me para o pequeno-almoço». Vezes houve, em que tive que telefonar para casa e reformular: «afinal só vou almoçar». Entretanto, no espaço de dois ou três anos deixei de achar piada às “raves”. Qualquer armazém servia para elas acontecerem, os frequentadores já não eram aqueles que inicialmente me tinham deslumbrado, mas sim um bando de putos de jeans (eu é que estava a envelhecer e não percebia…) e os meus ouvidos, martirizados por horas e horas seguidas de “tum, tum, tum” já não aguentavam noites inteiras de decibéis levados ao extremo. Hoje em dia, doem-me terrivelmente se eu for para o meio da pista de uma discoteca.
A música que hoje despoletou esta reminiscência fez-me sentir uma certa saudade desse tempo. Se tivesse ouvido Cure, Depeche Mode ou Sisters of Mercy teria sentido saudades da adolescência e dos primeiros anos de faculdade; se fosse Nirvana, levar-me-ia para um outro passado, mais introspectivo; Incubus transportar-me-ia para uma realidade mais recente. Eu sou daquelas pessoas que considera que os diferentes episódios da nossa vida deviam ser sempre acompanhados por uma banda sonora. É a música que vivifica as nossas memórias, que lhes dá forma e as torna presentes; é a música que nos ajuda a idealizar, a acalentar esperança, a desejar que os nossos sonhos se tornem realidades. Hoje a música transportou-me para uma realidade que me parecia tão distante, mas que ficou, repentinamente, tão perto e que me fez, saudosamente, recordar as noites em que, de braços erguidos para o céu, parecíamos esperar por uma bênção de um qualquer deus.
Love and light!

9 Comments:

Blogger taizinha said...

Diz Rui Veloso, e muito bem, no "anel de rubi": não se ama alguém que não ouve a mesma canção.

11:40 da manhã  
Blogger Prof said...

Taizinha, eu penso exactamente da mesma maneira!

5:01 da tarde  
Blogger Marina said...

Realmente, a musica tem esse poder...

Eu tenho a mania de associar musicas a pessoas (as vezes por pequenas coisas, tao ridiculas!!!.)Quando as ouço é quase como se as pessoas estivessem perto...

Ate breve!

11:48 da tarde  
Blogger A Professorinha said...

Agora fiquei com saudades do passado :)

Beijos

9:54 da manhã  
Blogger Xica said...

Eu tb costumo associar determinadas músicas a determinadas alturas da minha vida e, muitas vezes, a momentos especificos. Desde q comecei a escrever o blog,p.ex., e como o faço a ouvir música, muitas vezes oiço uma determinada música e associo-a a um blog.
Outra mania q tenho é gostar das músicas pela letra e não tanto pela sonoridade. Até posso gostar de ouvir uma música sem ter prestado atenção à letra, a partir do momento em q o faço, se achar a letra sem interresse deixo de me interessar pela música. Isto qd percebo a letra, claro.
Beijitos.

10:23 da manhã  
Blogger LoiS said...

Jade:

Por vezes sais com algumas em que me revejo, por certo já nos cruzámos algures, vivências muito semelhantes as nossas ;)

Esses sons, essas festas, essas sensações eu conheço-as bem... muito bem ! embora actualmente não frequente com regularidade esses locais.

Tive nesse tipo de festas que relatas, já lá vai muito tempo, bofff ...em tantas, era o tempo do Tó Pereira, o nosso "menino" que num processo de internacionalização foi baptizado como Dj Vibe e ainda por aí anda.

Saudades de outros amigos que desapareceram; do saudoso "Kremlin" dos primeiros tempos; do "Alcântar-Mar" que desapareceu e que tanto me marcou a na minha vida de adolescente.

Os ambientes degradaram-se drásticamente. Os gangs apoderaram-se desses locais e expulsaram os verdadeiros amantes da cultura hipnótica da dance music scene, os pacifistas os modernos hippies.

Sabes onde a mística ainda impera e com esses delirantes ambientes ? em Ibiza, mais concretamente em alguns Clubes e festas ao ar livre !

Pena que no meio de uns milhares de dançarinos uma pessoa se sinta sempre deslocada. É que enquanto bebemos alccol ou outra coisa qualquer, os restantes milhares bebem apenas água ( adivinhem pq ! ).

Nisso aí digo, há coisas que nunca mudam !

Bjs Jade

5:21 da tarde  
Blogger Prof said...

Olá Xica! Pergunto-me: que música associarias ao meu blog? Eu gosto muito de música, mas confesso que, por vezes, a simples sonoridade me basta. Agora, sem dúvida, que a letra é muito importante. Se uma música tiver um letra que eu não gosto, imediatmente me desinteresso.
Um beijinho!


Lois,
Não me digas que também tu frequentavas essas festas?!! É verdade, parace que temos um a ou outra coisa em comum. Há tempos, ao arrumar uma gaveta deparei com umas cassetes, imagina cassetes, do Tó Pereira. Confesso-te que eu sou um pouco provinciana e como tal nunca fui ao Kremlin, nem ao Alcântara-Mar mas lembro-me do Luís Leite e de ter estado em muitas festas onde ele estava presente que penso que era D.J. no Alcântara-Mar, não?). Os tempos são outros e claro que agora me sentiria, porventura, pouco à-vontade num local desses. É a lei da vida!

4:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

pOIS, POIS, QUERIDOS AMIGOS! eU JÁ NÃO SOU DO TEMPO DAS RAVES, MAS ALGUMAS DISCOTECAS E, DEPOIS, O ETERNO... oCEANO pACÍFICO! qUE AINDA EXISTE NA rfm E QUE CONTINUA EM FORMA. oK, CHAMEM-ME COTA!
bEIJINHOS, lU

10:21 da tarde  
Blogger AnaCristina said...

Pois, também tive essa estranha fase... mas continuo a ter uma vida marcada pela música. Há sempre aquela música que me faz lembrar aquele acontecimento ou aquela pessoa...
Beijo

9:16 da tarde  

Deixe um comentário

<< Home