O piercing
O trabalho tem sido muito o que não me deixa muito tempo livre e me impossibilita de manter este blog tão actualizado quanto eu gostaria. Hoje, no entanto, arranjei um tempinho livre para trazer a Mel de volta. Ainda se lembram dela?
"Sinto uma dor e cerro os dentes.
- Ora, cá está! Agora é só... e, pronto! Vá, vê-te lá ao espelho!
Levanto-me da cadeira, sentindo um ligeiro ardor na pele e olho-me ao espelho. O piercing minúsculo brilha no meu nariz e dá-me uma incontornável vontade de rir ao imaginar a reacção do formador da próxima vez que for assistir a uma aula minha. Na verdade, se hoje acabei de fazer mais um piercing, posso dizer que o devo ao referido senhor. Tudo se passou na reunião que aconteceu depois de mais uma ronda de assistências. Quando chegou a minha vez de ser avaliada, ele não foi nada complacente e, pura e simplesmente, arrasou-me. Disse que eu tinha cometido erros científicos, que não tinha evoluído nada desde a última assistência e que me tinha arriscado a ouvir algo menos próprio pela forma como respondi a um aluno. Fiquei um pouco surpreendida com uma crítica tão acutilante porque a percepção com que eu tinha ficado é que a aula não tinha corrido assim tão mau. Ainda assim, não contra-argumentei, decidida a ouvir pacientemente e em silêncio as observações dele. Mas depois ele começou a tecer comentários acerca da forma como eu me arranjava, acrescentando que não era a mais adequada para uma professora. Desancou nos meus jeans e nas minhas All Star e terminou dizendo que eu tinha que perceber que já não estava na faculdade, mas sim num local onde tinha responsabilidades. Comecei a sentir o nervosismo a tomar conta de mim e não me contive, acabando por lhe dizer que a indumentária não estava directamente relacionada com a competência científica de uma pessoa e se, relativamente à avaliação da minha aula, eu não tinha dito nada, no entanto, considerava que a forma como eu me vestia era uma questão pessoal que não era para ali chamada. Ele tirou os óculos e olhou para mim, espantado, e eu fiquei com a sensação que ele não estava habituado a ser afrontado. A Fernanda tentou deitar água na fervura, dizendo que aquilo era apenas um pormenor sem importância, mas eu não desarmei e insisti na minha ideia, reforçando que não ia abdicar da minha autenticidade em favor de convenções sem sentido. O formador voltou a colocar os óculos, a meio do seu nariz bolboso, e no seu tom falsamente paternal aconselhou-me a ouvir com mais atenção o que pessoas com mais experiência do que eu tinham para dizer. A Fernanda voltou a intervir, de uma forma peremptória, pondo fim à discussão e eu não voltei a abrir a boca, decidindo naquele preciso momento que a minha resposta iria ser dada na próxima assistência. Aquele piercing era a minha tomada de posição. Sei que a partir deste momento o meu estágio está perigosamente em risco, mas a verdade é que eu não posso permitir que um catedrático antiquado me discrimine, só pelo facto de eu não usar uma saia que suba o suficiente para que ele possa deitar olhadelas lúbricas às minhas pernas como faz com as minhas colegas.
- Obrigada Fred! Ficou óptimo!
Ele faz-me uma espécie de vénia e devolve o agradecimento - Obrigado eu. Ficaste linda. E a tatto, é para quando?
Eu rio-me antes de lhe responder - Para isso, ainda preciso de arranjar coragem.
Pago os serviços do Fred e saio, sentindo-me o máximo com o meu novo piercing. A única coisa que me preocupa vai ser a reacção da minha mãe. Para lhe dizer que tinha um piercing no umbigo deixei passar um ano inteiro e aproveitei a noite de Natal, quando a família estava toda reunida, para lhe dar conhecimento. Assim, ela não teve grandes hipóteses de ter um ataque. Agora este, não vai dar mesmo para esconder."
Prometo que voltarei o mais rápido que me for possível.
Love and ligth!
12 Comments:
As vezes que eu já pensei num piercing, e depois numa tatuagem... e pensei pensei e ainda não fiz nada hehehehe
Beijos
É um facto que a forma como uma pessoa se veste não tem nada que ver com a sua competência profissional. As pessoas habituaram-se a um determinado modelo e têm muita dificuldade em sair dessa moldura.
Por causa da minha profissão diária ando sempre vestida de modo muito sóbrio, mas sempre de calças, dá-me mais jeito. Uma vez a dar uma aula já ao fim do dia perguntaram-me se eu não tinha jeans ao que eu respondi com uma sonora gargalhada. É que naquele ambiente, bastante descontraído, o meu ar mais "profissional" destoava completamente...
Beijinhos
P.S. - Como é que vão as aulas de psicologia?
Por que será que as pessoas, quando não se sentem bem consigo mesmas mudam por fora (percings, tattoos, look, air-style)?
Por que será que não tentam mudar por dentro?
Será por que dentro não há nada?
OLá querida Jade!
Bem sei que foste capaz disso e muito mais, grande personalidade. Personalidade que antes de mudar por fora está em constante e filosófica mudança interna!
Acho piada a certas pessoas que criticam, mas essas sim, não se mostram! A coragem é muito bonita, não é?
Beijinho, Lu
Ooops, parece que houve alguém que já enfiou a carapuça...
Ena isso é q foi ter coragem. Felizmente não precisei de mudar o guarda fatos (calças de ganga sempre), mas conheço quem tivesse de o fazer: dois amigos de cabelo comprido e roupa a "metaleiro" que se quiseram arranjar emprego tiveram q o fazer.
Nunca me passou pela cabeça fazer um piercing ou uma tatuagem-não me sinto eu com acessórios (até brincos deixei de usar apesar de ter as orelhas furadas, mas só por pressão da minha avó aos 12 anos). Beijitos.
Schopenhauer,
Obrigada pela visita. Como é a primeira vez que cá vens, não conheces a dinâmica do meu blog. O texto postado faz parte de um conjunto mais vasto que tem como personagem principal uma prof virtual. Para conhecer o seu perfil há que ler tudo. Quando se comenta descontextualizadamente acaba por não se acertar.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
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Gostei aqui do cantinho... TUDO DE BOM :)
Professorinha,
Pois é, se pensarmos muito acabamos por perder a coragem!
Beijinhos!
Maria,
O importante é que te sintas bem com o que vestes e que haja o mínimo de bom senso na escolha das roupas às situações. As aulas de Psicologia vão andando. No 11º ano estou a dar o processo de hominização e nem imaginas os disparates que tenho ouvido.
Um beijinho!
Arte Minorca,
Seria capaz disso e de muito mais... Mas eu mesma só tenho piercing no umbigo!
Beijinhos!
Xica,
Ao contrário de ti, adoro acessórios, piercings (não em todo o lado) e tatuagens. Nunca tive coragem de fazer uma tatuagem porque tenho uma baixa tolerância à dor, mas tenho pena. Também conheço algumas pessoas (homens) que tiveram de cortar o cabelo por causa do emprego. Eu acho que deve haver o mínimo de bom senso na escolha da roupa para exercer a nossa actividade. No outro dia, entrou uma colega na sala de professores com uma túnica transparente e um sutiã preto por baixo. Eu nunca iria para a escola vestida dessa forma e já tive a minha fase espampanante... Aconteceu-me há uns anos estar a dar uma aula com uma tee-shirt ligeiramente curta que deixava entrever o umbigo e consequentemente o piercing. Quando dei por ela, tinha um aluno completamente embasbacado a comtemplar o brilho do piercing. Escusado será dizer que morri de vergonha.
Um beijinho!
Lois,
Muito, muito love and ligth para ti...
Tenho de ter perguntar em que loja fizes-te o piercing?Quero fazer um no lóbulo da orelha...mas quero mesmo fazer num sítio que tenha higiene.Obrigada*
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