terça-feira, outubro 24, 2006

O piercing

O trabalho tem sido muito o que não me deixa muito tempo livre e me impossibilita de manter este blog tão actualizado quanto eu gostaria. Hoje, no entanto, arranjei um tempinho livre para trazer a Mel de volta. Ainda se lembram dela?
"Sinto uma dor e cerro os dentes.
- Ora, cá está! Agora é só... e, pronto! Vá, vê-te lá ao espelho!
Levanto-me da cadeira, sentindo um ligeiro ardor na pele e olho-me ao espelho. O piercing minúsculo brilha no meu nariz e dá-me uma incontornável vontade de rir ao imaginar a reacção do formador da próxima vez que for assistir a uma aula minha. Na verdade, se hoje acabei de fazer mais um piercing, posso dizer que o devo ao referido senhor. Tudo se passou na reunião que aconteceu depois de mais uma ronda de assistências. Quando chegou a minha vez de ser avaliada, ele não foi nada complacente e, pura e simplesmente, arrasou-me. Disse que eu tinha cometido erros científicos, que não tinha evoluído nada desde a última assistência e que me tinha arriscado a ouvir algo menos próprio pela forma como respondi a um aluno. Fiquei um pouco surpreendida com uma crítica tão acutilante porque a percepção com que eu tinha ficado é que a aula não tinha corrido assim tão mau. Ainda assim, não contra-argumentei, decidida a ouvir pacientemente e em silêncio as observações dele. Mas depois ele começou a tecer comentários acerca da forma como eu me arranjava, acrescentando que não era a mais adequada para uma professora. Desancou nos meus jeans e nas minhas All Star e terminou dizendo que eu tinha que perceber que já não estava na faculdade, mas sim num local onde tinha responsabilidades. Comecei a sentir o nervosismo a tomar conta de mim e não me contive, acabando por lhe dizer que a indumentária não estava directamente relacionada com a competência científica de uma pessoa e se, relativamente à avaliação da minha aula, eu não tinha dito nada, no entanto, considerava que a forma como eu me vestia era uma questão pessoal que não era para ali chamada. Ele tirou os óculos e olhou para mim, espantado, e eu fiquei com a sensação que ele não estava habituado a ser afrontado. A Fernanda tentou deitar água na fervura, dizendo que aquilo era apenas um pormenor sem importância, mas eu não desarmei e insisti na minha ideia, reforçando que não ia abdicar da minha autenticidade em favor de convenções sem sentido. O formador voltou a colocar os óculos, a meio do seu nariz bolboso, e no seu tom falsamente paternal aconselhou-me a ouvir com mais atenção o que pessoas com mais experiência do que eu tinham para dizer. A Fernanda voltou a intervir, de uma forma peremptória, pondo fim à discussão e eu não voltei a abrir a boca, decidindo naquele preciso momento que a minha resposta iria ser dada na próxima assistência. Aquele piercing era a minha tomada de posição. Sei que a partir deste momento o meu estágio está perigosamente em risco, mas a verdade é que eu não posso permitir que um catedrático antiquado me discrimine, só pelo facto de eu não usar uma saia que suba o suficiente para que ele possa deitar olhadelas lúbricas às minhas pernas como faz com as minhas colegas.
- Obrigada Fred! Ficou óptimo!
Ele faz-me uma espécie de vénia e devolve o agradecimento - Obrigado eu. Ficaste linda. E a tatto, é para quando?
Eu rio-me antes de lhe responder - Para isso, ainda preciso de arranjar coragem.
Pago os serviços do Fred e saio, sentindo-me o máximo com o meu novo piercing. A única coisa que me preocupa vai ser a reacção da minha mãe. Para lhe dizer que tinha um piercing no umbigo deixei passar um ano inteiro e aproveitei a noite de Natal, quando a família estava toda reunida, para lhe dar conhecimento. Assim, ela não teve grandes hipóteses de ter um ataque. Agora este, não vai dar mesmo para esconder."
Prometo que voltarei o mais rápido que me for possível.
Love and ligth!

12 Comments:

Blogger A Professorinha said...

As vezes que eu já pensei num piercing, e depois numa tatuagem... e pensei pensei e ainda não fiz nada hehehehe

Beijos

10:04 da tarde  
Blogger Maríita said...

É um facto que a forma como uma pessoa se veste não tem nada que ver com a sua competência profissional. As pessoas habituaram-se a um determinado modelo e têm muita dificuldade em sair dessa moldura.

Por causa da minha profissão diária ando sempre vestida de modo muito sóbrio, mas sempre de calças, dá-me mais jeito. Uma vez a dar uma aula já ao fim do dia perguntaram-me se eu não tinha jeans ao que eu respondi com uma sonora gargalhada. É que naquele ambiente, bastante descontraído, o meu ar mais "profissional" destoava completamente...

Beijinhos

P.S. - Como é que vão as aulas de psicologia?

11:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por que será que as pessoas, quando não se sentem bem consigo mesmas mudam por fora (percings, tattoos, look, air-style)?

Por que será que não tentam mudar por dentro?

Será por que dentro não há nada?

11:53 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

OLá querida Jade!
Bem sei que foste capaz disso e muito mais, grande personalidade. Personalidade que antes de mudar por fora está em constante e filosófica mudança interna!
Acho piada a certas pessoas que criticam, mas essas sim, não se mostram! A coragem é muito bonita, não é?
Beijinho, Lu

12:45 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ooops, parece que houve alguém que já enfiou a carapuça...

1:14 da manhã  
Blogger Xica said...

Ena isso é q foi ter coragem. Felizmente não precisei de mudar o guarda fatos (calças de ganga sempre), mas conheço quem tivesse de o fazer: dois amigos de cabelo comprido e roupa a "metaleiro" que se quiseram arranjar emprego tiveram q o fazer.
Nunca me passou pela cabeça fazer um piercing ou uma tatuagem-não me sinto eu com acessórios (até brincos deixei de usar apesar de ter as orelhas furadas, mas só por pressão da minha avó aos 12 anos). Beijitos.

9:41 da manhã  
Blogger Prof said...

Schopenhauer,
Obrigada pela visita. Como é a primeira vez que cá vens, não conheces a dinâmica do meu blog. O texto postado faz parte de um conjunto mais vasto que tem como personagem principal uma prof virtual. Para conhecer o seu perfil há que ler tudo. Quando se comenta descontextualizadamente acaba por não se acertar.

10:57 da manhã  
Blogger LoiS said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

11:01 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

11:21 da manhã  
Blogger rules said...

Gostei aqui do cantinho... TUDO DE BOM :)

5:50 da tarde  
Blogger Prof said...

Professorinha,
Pois é, se pensarmos muito acabamos por perder a coragem!
Beijinhos!

Maria,
O importante é que te sintas bem com o que vestes e que haja o mínimo de bom senso na escolha das roupas às situações. As aulas de Psicologia vão andando. No 11º ano estou a dar o processo de hominização e nem imaginas os disparates que tenho ouvido.
Um beijinho!

Arte Minorca,
Seria capaz disso e de muito mais... Mas eu mesma só tenho piercing no umbigo!
Beijinhos!

Xica,
Ao contrário de ti, adoro acessórios, piercings (não em todo o lado) e tatuagens. Nunca tive coragem de fazer uma tatuagem porque tenho uma baixa tolerância à dor, mas tenho pena. Também conheço algumas pessoas (homens) que tiveram de cortar o cabelo por causa do emprego. Eu acho que deve haver o mínimo de bom senso na escolha da roupa para exercer a nossa actividade. No outro dia, entrou uma colega na sala de professores com uma túnica transparente e um sutiã preto por baixo. Eu nunca iria para a escola vestida dessa forma e já tive a minha fase espampanante... Aconteceu-me há uns anos estar a dar uma aula com uma tee-shirt ligeiramente curta que deixava entrever o umbigo e consequentemente o piercing. Quando dei por ela, tinha um aluno completamente embasbacado a comtemplar o brilho do piercing. Escusado será dizer que morri de vergonha.
Um beijinho!

Lois,
Muito, muito love and ligth para ti...

11:46 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Tenho de ter perguntar em que loja fizes-te o piercing?Quero fazer um no lóbulo da orelha...mas quero mesmo fazer num sítio que tenha higiene.Obrigada*

4:07 da tarde  

Deixe um comentário

<< Home