sexta-feira, novembro 03, 2006

O aborto

A Maria do Maríita deu-me o mote para este post e Dom José Policarpo ajudou. Ouvi hoje nas notícias que Dom José Policarpo considera que os portugueses estão incomodados com o referendo sobre o aborto. Não sabia que os portugueses lhe tinham passado uma procuração para ele falar em nosso nome. Pela minha parte, não me sinto minimamente incomodada com o referendo sobre o aborto. Fico incomodada quando leio notícias de mulheres que morrem em consequência de abortos realizados em condições precárias, fico incomodada com o julgamento em praça pública de mulheres que recorrem a esse método, fico incomodada com a desgraça alheia. Portanto, agradeço a preocupação de Dom José Policarpo com a minha humilde pessoa, mas ele pode estar descansado que eu não me incomodo nada com o referendo sobre o aborto. Nesta questão do aborto há um facto que sempre me intrigou: porque razão é que são as mulheres as únicas a ser julgadas e condenadas? Por acaso engravidaram por geração espontânea? Já sei que alguns dirão que a decisão é única e exclusivamente da mulher. Tenho algumas reservas sobre isso. Diria que em muitos casos a decisão é conjunta e acredito mesmo que muitas o fazem por pressões, medo, ameaças da outra parte envolvida. Também já sei que outros acrescentarão que é impossível provar a posição do pai no processo a menos que o mesmo a declare de forma inequívoca. Em suma, a mulher arca com toda a responsabilidade. Verifiquei este facto junto dos meus alunos. Por norma, todos os anos, os convido a escreverem um texto argumentativo acerca de um assunto pertinente. Invariavelmente, muitos escolhem a questão do aborto e também eles se referem sempre à opção da mulher, à responsabilização da mulher, etc. Em muitos textos que li nestes últimos anos, uma ínfima parte alude ao homem como parte integrante do processo. Constatei, igualmente, e com alguma surpresa, confesso, que no que se refere ao aborto os adolescentes são, na sua maioria, contra. Alguns invocam razões de cariz religioso, outros, ético-morais ou então limitam-se a afirmar «que não o fizesse» (atenção, o uso do singular é esclarecedor). Alguns alunos conseguem discernir as várias facetas que envolvem esta questão e assumem-se contra em determinadas circunstâncias e a favor se se verificar perigo para a mulher, deficiente formação do feto ou violação. É apenas uma curiosidade que eu resolvi partilhar convosco. Parece que este assunto tem levantado celeuma que baste nos blogs onde facções necessariamente opostas têm esgrimido os seus argumentos de forma violenta. Respeito, como é óbvio e meu apanágio, as diferentes opiniões que há sobre o aborto. Detesto, porém, discursos falsamente moralistas ou sensacionalistas. É imprescindível que este assunto deixe de ser escamoteado e visto como um tabu e passe a ser encarado à luz da realidade do nosso país.
Love and ligth!

27 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mmmmm... Tenho a honra de ser a primeira a comentar!
Concordo plenamente contigo. Engraçado que a propósito da opinião e dos pressupostos, no 10º ano, esta última aula foi em grupo a discutir este mesmo tema. A próxima aula será para o debate. Tens toda a razão quando na discussão se fala da responsabilidade no feminino, cadê o outro?
Começa a hipocrisia! Então o D. José Policarpo está muito preocupado comigo...Agradeço a atenção amsnão lhe vejo autoridade para ser representante do povo, muito menos das mulheres!
Bom fim de semana querida amiga! Lu

12:51 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

*mas não lhe", desculpa o lapso!

12:51 da manhã  
Blogger Geoca said...

Ciao Bella!
Mais um belo post da tua parte, de qual eu subscrever inteiramente.
Arrivederci!

11:29 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Detesto falsos moralismos mas também detesto este esbanjar de dinheiros públicos em questões que na minha maneira de ver deveriam ser resolvidas em AR. Afinal, temos ou não um Governo com um programa? Ganharam ou não as eleições?

5:23 da tarde  
Blogger A Professorinha said...

Já falei deste tema com várias pessoas. Se eu engravidasse, provavelmente não abortaria, mas não posso impedir outras pessoas de o fazer e nem sequer me atrevo a julgar as pessoas que o fazem. O corpo é NOSSO, a vida é NOSSA. Esta lei do aborto em vigor é uma lei feita por homens e para homens. Se os homens engravidassem esta lei já teria sido abolida há anos, se não séculos. As mulheres têm o direito de mandar no seu corpo e não há nenhum homem que entenda ou possa fingir entender o que se passa com uma mulher quando tem que tomar essa opção.

BEijos

5:48 da tarde  
Blogger Capitão-Mor said...

Olá Jade!
Inaugurei o meu novo blog e nickname. Deixei de ser o Visconde! :)
www.portugaemnatal.blogspot.com

12:55 da manhã  
Blogger asdrubal tudo bem said...

Tens razão quando dizes que a culpa cai sempre em cima da mulher e o homem até parece que fica a assobiar para o ar como se não fosse nada com ele. Pessoalmente acho que esta é uma decisão que cabe exclusivamente à mulher e que o Homem a única coisa que pode e deve fazer é limitar-se a apoiar para o bém e para o mal mesmo que não concorde com a decisão. é como tu dizes elas não engravidam pelo ar. Claro que há excepções casos há em que elas para agarrar alguém dizem que tomam tudo e mais alguma coisa e no fim não tomam nada e engravidam.Quanto à nova lei do aborto tenho medo que venha aumentar ainda mais e leviandade de muita gente. li este fim-de-semana na revista do expresso alguns testemunhos de pessoas que o fizeram e é uma vergonha.

10:00 da manhã  
Blogger Xica said...

Se reparares, nesta questão quem tem mais voto na matéria são os homens. Nos meios de comunicação quem se mais pronuncia? Os homens. É fácil julgar qd o corpo, a mente e a vida não são nossos, mas qd chega a hora da verdade a mulher está sozinha.
Vá lá q ao menos, a igreja, tem dito q não vai condenar e julgar as mulheres q o fazem, apesar de serem contra. Ao menos não se esqueceram desse ensinamento de Cristo: ...que atire a primeira pedra.
Como já tinha dito no teu post sobre evolucionistas e criacionistas, infelizmente a igreja tem ainda muita voz na nossa sociedade e, molda ainda muitas opiniões e comportamentos.
Beijitos.

10:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Jade, pela 3ªx tentarei colocar algo aqui no teu canto sobre esta matéria de tamanha importância.

As mulheres têm sido sempre o elo mais fraco das sociedades machistas, nada de novo, condenável, mas nada de novo.

Ainda hoje lemos enormidades sobre pessoas de diferentes culturas, como a muçulmana, que entendem que uma mulher de cara destapada, não é mais que um "pedaço de carne a pedir para ser violada".

Mas afinal nós, neste rectângulo, estaremos tão longe dessa cultura específica ?

Enfim...sou pela liberdade mas pela liberdade com responsabilidade e responsabilização. Sei que quem faz um aborto fica marcado para o resto da vida, se o faz é pq o teve que fazer, não é a mesma coisa que tomar uma pílula. Se o fizerem que o façam em condições e sem maiores sofrimentos.

E sim, o corpo é da mulher, mas a responsabilidade não deverá ser menor no homem !

12:31 da tarde  
Blogger Maríita said...

Vamos lá por partes:

1) Não estou de acordo com o referendo. Penso que é uma perda de tempo e que esta questão devia ser legislada directamente pela AR. A despenalização do aborto já devia existir em Portugal há décadas, mas como em quase tudo o que é relevante e de fundo, os sucessivos governos, não tiveram coragem para promover a alteração legislativa.

2) Como as coisas não são como eu quero, teremos um referendo em Janeiro. E já que temos um referendo permitam-me que diga que não entendo porque é que a Igreja Católica se tem que meter ao barulho. Em linguagem menos coloquial, parece-me que a Igreja Católica deveria permanecer à margem de todo o processo. Se quiserem usar da palavra no decurso da missa dominical é uma opção da Igreja que tenho que respeitar, mas parece-me que a campanha junto dos cidadãos estravaza claramente o âmbito da actuação da Igreja.

3) Concordo quando dizes que a decisão não deveria ser única e exclusivamente da mulher, mas há uma coisa que por motivos familiares vivi já na pele. A decisão partilhada, tem outros encargos, isto é, se o bebé nascer, o pai tem que o assumir. Ora, assumir um bebé, é desde o momento, não quero dizer da concepção (mas quase) até ao dia em que esse bebé já Homem esteja criado e formado. E aqui entra a minha grande questão, muitos pais por diferentes motivos, vão-se embora e deixam as mães a braços com a criança. A decisão ainda deve ser partilhada? Tenho as mais sérias dúvidas.

4) Contrariamente ao que tenho lido em vários locais, não creio que a maioria das mulheres que já fez um aborto, o faça de modo leviano. Claro que existem esses casos, mas maioritariamente são mulheres que se vêem em situações muito complexas. Já agora, a maioria não são solteiras que andaram na "má vida", existem muitas casadas em situações sociais muito complexas.

Finalmente, espero que este assunto se resolva de uma vez por todas, porque o sofrimento envolvido merece da nossa parte todo o respeito do mundo e já chega de em Portugal andarmos com falsos moralismos.

Boa semana Jade!
Beijinhos

3:37 da tarde  
Blogger rules said...

Ora aqui está um excelente post... TUDO DE BOM :)

5:53 da tarde  
Blogger taizinha said...

No fim de semana não consegui postar porque o "Sr. Blogger" não me deixou. Não percebo porquê.

Julgo que a decisão é sempre dos dois mesmo quando o 2º não está lá. Explicando, a ausência pode influenciar a decisão. "Sozinha não posso, não quero, não consigo..."

7:15 da tarde  
Blogger Prof said...

Minorca,
Que resultados obtiveste no debate?

Geoca,
Arrivederci e não te ausentes durante muito tempo.

Aflores,
Concordo contigo. Para quê referendar? Há que legislar!

Professorinha,
Subscrevo as tuas palavras.

capitão-mor,
Lá irei ao teu estaminé.

asbrubal tudo bem,
Também concordo contigo quando dizes que podemos cair na leviandade total pela despenalização do aborto, mas quero acreditar que não. O mesmo argumento se usou a propósito da pílula do dia seguinte. Acho que é tudo uma questão de educação, formação, princípios e valores e aí o nosso papel enquanto professores, pais ou amigos é fundamental.

Xica,
Também concordo contigo

Lois,
Claro, liberdade com responsabilidade, é mesmo isso.

Maria,
Muito bem explanado e, se calhar, tens razão quando dizes que por vezes mais vale a responsabilidade não ser partilhada. Para um mau pai ou um pai ausente, mais vale não ter pai. O mesmo se aplica à mãe, como é óbvio. Há situações em que, porventura, mais vale a decisão ser tomada no singular.

Rules,
Fica bem!

Taizinha,
Idealmente, seria assim.

Beijinhos para todos!

2:33 da tarde  
Blogger Zorze Zorzinelis said...

Gostaria que se discutisse também a eutanásia. É outra questão onde a hipocrisia se estende.

3:20 da tarde  
Blogger Prof said...

Olá Zorze! É uma excelente proposta. Acho que vou pensar no assunto. Entretanto, pode ser que alguém pegue na ideia.
Fica bem!

3:28 da tarde  
Blogger Marina said...

Ola Jade!
Tenho me mantido afastada porque nao gosto de me meter em confusoes!
Mas nao resisto a comentar.
E aqui vao, resumidamente, algumas das minhas posições:
1 - Acho que o referendo nao seria necesario. Afinal, nao fazemos referendos todas as vezes que se aprovam leis...
2 - Acho que a opção de fazer ou não um aborto e da responsabilidade de cada um, pelo que apesar de nao concordar com essa opção para mim, entendo que a lei seja alterada pois nao me atreverei nunca a julgar quem o faz.
3 - Tal como foi dito, as mulheres nao engravidam "por obra e graça" pelo que acho q os homens devem ser parte activa nas decisoes. Pelo menos, sempre que possivel...
4 - Com tanto encerramento de maternidades por todos os motivos e mais alguns, onde será que vao fazer os abortos?Preocupa-me esta questao.

Enfim, acho que ja me alonguei.
Ate breve!
Beijitos

1:12 da manhã  
Blogger Lord of Erewhon said...

É por causa de senhores como esse que sou forçado a dizer sim ao aborto!
... pode ter vantagens selectivas tremendas!

9:49 da manhã  
Blogger taizinha said...

Jade, permite-me usar este teu espaço para dizer que a bloguista do Assobio Rebelde tem um post sobre a eutanásia.
http://assobiorebelde.blogspot.com/2006/10/eutansia-sim.html#links
Bj

1:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Boas,

Fala-se muita da mulher, muito da fuga à responsabilidade do homem.
Em quase tudo têm bastante razão. Contudo acho que continuam sempre a esquecer-se da criança. Filosóficamente ou não, ainda bem que não fui eu que dependi de uma decissão dessas.

CumpZ

GomeZ

6:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

eu às vezes acho que nós não temos um país...afinal fomos fundados por um filho que bateu na mãe - deveria ter ela abortado?(isto é uma provocação). isso deve ter-nos deixado o estígma de coitadinhos. a verdade é que neste país de fala muito, se discute muito, há muitas teorias, é de facto um país kafkiano (terá ele passado férias em portugal?!- outra provocação). isto se nos esquecermos que temos das maior taxas de analfabetismo da europa. sejamos realistas - o referendo é mais uma desculpa para alguém ganhar dinheiro ou estará o governo realmente interessado em abrir os olhos para uma realidade que existe e que é urgente resolver?

10:52 da tarde  
Blogger vinte e dois said...

Em relação a este tema, sempre tive uma ideia bem definida. Apoio o ponto de vista da Maria que realmente é uma decisão que deve ser tomada pela AR tal como se faz com outros assuntos sem pedirem a opinião do povo. Mas não o fazem por uma razão muito simples: é uma decisão muito delicada de tomar... e que pode fazer perder muitos votos. E muito mais fácil deixar o povinho decidir. Desta forma, o governo confrontado com a situação pode argumentar "Não! Não! Não fomos nós que decidimos, foi o povo!" e descartam-se obviamente de qualquer responsabilidade. E muito fácil! Agora que o aborto já devia ter sido legalizado há muito tempo, disso não há dúvidas. Estando ou não a lei em vigor, fazem-se abortos na mesma, quer aqui, quer no país vizinho. Com a agravante que em Portugal, as condições são o que são, com todos os possíveis riscos para a mulher!

1:26 da manhã  
Blogger Prof said...

Marina, Lord, Gomez, incs, 22,
Obrigada pelos vossos comentários. De uma forma ou de outra, concordo com as vossas opiniões. Gomez, de facto, centrei-me propositadamente na questão do aborto em si; a criança iria remeter-me para uma outra conversa, porventura, muito mais longa.
Beijos para todos!

4:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Boa semana ;);)

9:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá Jade! O debate afinal foi só hoje, a minha escola fechou os dois dias com a greve da função pública (por muito que custe ao Lois, ih, ih!). E por incrível que pareça, uma turma que é turbulenta manifestou-se muito adulta, com argumentos tanto a favor do sim como a favor do não, muito bem construídos. O resultado maioritariamente foi a favor do sim à legalização. Foi um debate interessantíssimo! A questão da mulher estar só também foi focada e os rapazes assumiram posições de grande responsabilidade. Fiquei admirada!
Beijinho, querida amiga!

12:44 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ah! Já tenho no blog a solução do desafio! Volta lá, linda!

12:44 da manhã  
Blogger Barão da Tróia II said...

Passei para desejar boa semana.

2:28 da tarde  
Blogger Z said...

Como há demasiadas coisas a dizer e é impossível esgotar a posição individual de cada um num comentário a um post, vou abster-me (não como no referendo onde expressarei a minha opinião).
Vou só dar uma opinião sobre algo que ainda não vi abordado e que, apesar de ser uma outra discussão, faz parte, quanto a mim, do cerne da questão!
É que o que está em discussão e vai ser referendado não é o aborto! É a despenalização do aborto!
Eu acredito que TODAS as pessoas que comentaram até agora neste blog têm um nivel intelectual suficientemente alto e uma educação suficientemente sólida para não se esquecer deste pormenor, mas, infelizmente, os comentadores do ponto cardeal não são a média da sociedade portuguesa (?), e a mim o que me faz mais confusão é que uma certa opinião pública (uma certa religião, um certo partido democrata-cristão) usem uma demagogia atroz e uma retórica enganadora para discutir um assunto grave e sério, com o intuito de desinformar, ou pelo menos de confundir espíritos mais simples, só porque isso serve os seus propósitos ideológicos / políticos!
Votar sim no referendo não tem nada que ver com votar sim ao aborto (já vi por aqui escrito, mas acredito que seja apenas por uma questão de comodidade e pra poupar tempo). Mas alguém acredita que existam pessoas a favor do aborto? Eu sou CONTRA!! Mas é bárbaro que as mulheres sejam penalizadas duplamente por algo que é já de si tão traumatizante! É que, sem querer entrar na questão da responsabilidade dos homens, esta é uma questão fundamentalmente feminina: porque só as mulheres abortam!!! (já agora, acho que se os homens pudessem engravidar e abortar o fariam mais e mais levianamente do que as mulheres, mas seria legal por isso nem se discutiria a questão!)
Portanto discuta-se o aborto, sim! Mas vote-se a sua despenalização!! Não se confundam as coisas - isto parece óbvio, mas não é e acho que vale a pena ser mencionado!! Há demasiada gente que se esquece (ou faz de esquecido) e confunde as questões.
Fico por aqui
Beijinhos

1:42 da tarde  

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