segunda-feira, setembro 10, 2007
Blog encerrado por manifesta falta de tempo (a culpa é da Milu...)
Não me despeço porque detesto despedidas e porque conto passar pelos vossos blogs, sempre que possível.
Até sempre!
Love and ligth!
sábado, agosto 25, 2007
Andróginos?
Depois da descoberta dos 30 Seconds to Mars, fiz alguma pesquisa rápida para ficar a saber quem são eles e depressa percebi que o vocalista - Jared Leto - é também actor tendo protagonizado alguns papéis mais ou menos conhecidos em filmes como Alexandre, o Grande, O Senhor da Guerra, Panic Room e uma breve aparição em Cabine Telefónica. Pude, igualmente, verificar que o seu visual em vídeos como From Yesterday ou The Kill é extremamente cuidado com os olhos perfeitamente maquilhados e unhas pintadas de negro o que me leva ao tema deste post que eu intitulei "Andróginos" ainda que os casos que eu vou referir não devam todos eles ser vistos à luz deste adjectivo.
(Jared Leto)
O Jared Leto, pelos vistos, faz furor entre homens e mulheres mesmo com um visual pouco ortodoxo o que me levou a pensar num outro vocalista de uma banda, este sim, com um visual completamente andrógino e que parece ser, também, um ídolo para milhões de adolescentes femininas que pouco se importam que ele pinte os olhos, os lábios, apresente as unhas cuidadosamente decoradas, etc. Falo de Bill Kaulitz, um miúdo de uma banda alemã chamada Tokio Hotel.
(Bill Kaulitz)
Por arrastamento, lembrei-me de Brian Molko dos Placebo, uma figura muito peculiar, a quem a palavra assenta muito bem e do inevitável Marilyn Manson, personagem indefinível, inqualificável que se encontra, talvez, num outro patamar que não aquele a que me refiro.
(Brian Molko)
Isto levou-me a questionar os actuais padrões de beleza masculinos (masculinos, porque os exemplos apresentados são todos eles desse género), porventura substancialmente diferentes dos de há uns anos atrás. No entanto, se recuarmos até aos anos setenta e oitenta também encontramos casos de visuais arrojados. A memória trouxe-me David Bowie e a sua fase camaleónica, Boy George, inicialmente dos Culture Club, e numa outra onda mas nem por isso menos espectacular, Robert Smith dos The Cure com os lábios eternamente esborratados, olhos carregados e cabelo impecavelmente despenteado.
É óbvio que os exemplos que eu escolhi são todos eles de um meio onde, por natureza, a diferença faz a diferença e, eventualmente, por questões meramente comerciais, assumem-se visuais pouco ortodoxos. Mas a questão não é exactamente essa, mas sim o facto das pessoas (homens e mulheres, adolescentes e adultos) ficarem completamente siderados por estas personagens, fixados na aparência em detrimento da qualidade da música e da mais-valia dos restantes elementos da banda que, normalmente, são pura e simplesmente esquecidos e relegados para segundo plano. Um corpo delgado, um rosto imberbe carregado de maquilhagem é considerado estonteantemente sexy (ver exemplo de Bill Kaulitz) e fica-se em êxtase diante destes rostos verdadeiramente andróginos, quase angélicos, apolíneos (guardo o dionisíaco para o Marilyn Manson). Pela minha parte, aplaudo esta aparente abertura perante a diferença e a novidade. Obviamente que tenho as minhas preferências no que concerne a esta matéria mas não é propósito deste post divulgá-las. Se se lembrarem de outros exemplos, por favor, digam...
Love and ligth!
sexta-feira, julho 27, 2007
Doping
Li num post do Fl (A Voz do Mocho) a seguinte frase «Será este um esforço honesto?», ilustrada pela imagem sugestiva de um ciclista em esforço. Reproduzo aqui, na íntegra, o comentário que lhe deixei. Gostaria de escrever mais sobre este assunto, mas infelizmente o tempo é pouco e tenho que recorrer ao copy past.
Adoro ciclismo, em especial o Tour pela grandeza da prova, a dificuldade das etapas, as míticas montanhas, etc. Contudo, parece que de há uns anos a esta parte o doping tem estragado a imagem dos ciclistas. Não sei se a lei é cada vez mais restrita, se as provas são cada vez mais exigentes, mas no outro dia ouvi uma frase que, alegadamente Joaquim Agostinho terá dito quando confrontado com uma pergunta acerca de doping « mas o meu amigo acha que se sobem os Pirinéus a comer bifes com batatas fritas?» Parece que este ano o Tour está definitivamente manchado com o afastamento da Astana, Cofidis e agora Rasmussen... Volta Armstrong, estás perdoado!
Love and ligth!
quinta-feira, julho 19, 2007
Creep
Creep dos Radiohead é uma música de que gosto muito. Por mero acaso, encontrei este vídeo sobre um filme que eu não conhecia e cuja música é precisamente aquela que eu mencionei. Achei a cena deliciosa porque a música, para mim, funciona muitas vezes como elo de ligação com os outros; serve para nos aproximar, para desvelar estados de espírito, para revelar sentimentos, para comunicar... e, também, para nos apaixonarmos... Parece ser esse o caso mostrado no vídeo.
"Sozinhos no meio da multidão" poderia ser um título para este vídeo porque, efectivamente, a música tem essa virtude: aliena o mundo à nossa volta e transporta-nos para um universo muito particular onde tudo é possível...
(do filme "Ils se marièrent et eurent beaucoup d'enfants" com Johnny Depp e Charlotte Gainsbourg)
Love and ligth!
quinta-feira, julho 05, 2007
Casa nova
Estou de saida... para uma casa nova. Esta breve nota informativa serve apenas para justificar a minha eventual ausência durante as próximas semanas. Vou fazer os possíveis para conseguir vir aqui com alguma frequência, mas se isso não acontecer estou desculpada, não estou? É por uma boa causa...
Love and ligth!
quinta-feira, junho 28, 2007
Berardo e lei laboral
Duas notícias captaram a minha atenção, nos últimos dias. A primeira está relacionada com o Joe Berardo que agora parece estar na berra. Confesso que só soube quem era o senhor quando ele apareceu num anúncio publicitário (mea culpa), ou melhor, não fazendo ideia quem era o senhor que aparecia no anúncio publicitário, tratei de descobrir. De repente, o senhor está em todas: ele é OPA's sobre o Benfica, ele é a criação de um banco do referido clube, ele é Museu Berardo mas ele é também, na minha perspectiva, alguma arrogância, falta de elegância (leia-se má-educação) o que prova a velha máxima que «nem tudo o que luz é oiro» e que adquire um significado especial quando aplicada a este senhor.
A outra notícia que gostava aqui de referir, prende-se com a nova lei laboral. Penso que as propostas são do conhecimento geral: menos dias de férias, menos subsídios (calculados tendo como referência o vencimento-base), maior facilidade nos despedimentos e aquela que verdadeiramente me assombrou - pausas para almoço mais curtas. Os senhores que propõe estas alterações consideram que uma hora para almoçar é tempo excessivo e que meia-hora serve perfeitamente. Meia-hora?!! Uma pessoa trabalha oito horas diárias (no mínimo) e tem direito a meia-hora para almoçar ou fazer outra coisa que lhe aprouver?!! Isto faz-me lembrar as políticas daquelas unidades fabris em que as pessoas apenas têm direito a ir uma vez à casa-de-banho... Poderia igualmente tecer considerações acerca das outras propostas, mas confesso que fiquei particularmente chocada com esta, talvez por achar importante que a pessoa tenha tempo para comer descansada, conversar um pouco, descansar, reflectir... em suma, parar um pouco, quebrar a rotina. Mas claro, que isto sou apenas eu a pensar...
Love and ligth!
sábado, junho 23, 2007
By nigth (III)
"(...)
O Ricardo sentou-se finalmente ao lado da Sofia. O longo cabelo dourado dela estava preso num penteado complicado e das orelhas pendiam-lhe uns brincos em espiral feitos de um material incrivelmente luminoso. Ele pegou-lhe delicadamente na mão – Estás linda! Acho que estou a gostar muito de ti – acrescentou.
- Ainda bem!
- Ainda bem!
Ele sorriu e interiormente pensou porque razão é que tinha acabado de dizer aquilo. Era perfeitamente escusado fazer aquele tipo de confidências. Mais tarde ou mais cedo as coisas acabavam por não resultar, por isso para quê dizer aquelas lamechices? A verdade é que ele se tinha acomodado a um determinado tipo de situação: relações fortuitas em que os sentimentos não eram importantes, mas sim a atracção física. A aparência e o culto que se prestava ao corpo determinavam o tipo de relação que se estabelecia entre um homem e uma mulher. Uma mulher feia seria uma esplêndida amiga, mas não amante; uma mulher bonita, eventualmente, seria uma amante arrebatadora e se fosse extraordinária podia também tornar-se uma excelente amiga. O burburinho em volta trouxe-o de regresso à realidade. Era a expectativa normal enquanto se esperava pelo início do desfile. Começou a ouvir-se uma música suave e, ao longe, surgiu a primeira rapariga. A luz incidiu em cheio em cima dela e, lentamente, ela começou a descer os degraus. A música tornou-se mais frenética e ela rodopiou sobre si mesma. Atirou fora a capa que a envolvia e deixou ver um vestido arrojado. A música voltou a ser suave e a rapariga desfilou diante das centenas de olhos que a fitavam com curiosidade. A seguir apareceram mais modelos, todas elas vestindo roupas insinuantes. Houve um silêncio abrupto e as luzes diminuíram de intensidade. Voltou a surgir uma figura ao longe e a música voltou a ouvir-se. A figura feminina desceu os primeiros degraus e sentou-se. Uma cascata de cabelos ondulados invadia-lhe o rosto. Passados uns breves segundos, ela atirou a cabeça para trás, levantou-se e começou a descer resolutamente os últimos degraus. O vestido que ela trazia esvoaçava à medida que ela avançava e entreabria-se deixando as pernas a descoberto. A luz subiu-lhe pelo corpo envolvendo-a num tom de ouro e iluminou-lhe o rosto até aí na penumbra. De repente, o tempo voltou vertiginosamente atrás e o Ricardo viu-a diante de si: a dançar, a rir, com o cabelo ao vento… A sua imaginação galopou, passando por todos aqueles instantes. Num ápice reviu tudo… A rapariga desfilava diante de si e sorriu para o público num gesto de ternura. Ele seguiu-a atentamente com o olhar, como ainda não querendo acreditar. Não era possível uma semelhança tão grande; era ela, tal e qual, como se o tempo não tivesse passado.
(...)
O Ricardo tentou que o Pedro o visse, acenando-lhe. Ele estava rodeado por algumas das raparigas que tinham desfilado. O Ricardo voltou a acenar-lhe insistentemente até que ele finalmente o viu e se encaminhou, sorridente, na sua direcção – Então mestre? Tudo bem?
Ele puxou-o para um sítio mais retirado, fazendo sinal à Sofia para esperar – Tenho que conhecer uma das miúdas!
O Pedro olhou espantado para ele – Não me digas que já estás cansado da Sofia!
O Ricardo abanou a cabeça em sinal de impaciência – Não tem nada a ver com isso. Só preciso de saber quem ela é.
- OK. E estás a falar de quem?
- Aquela rapariga que desceu as escadas e se sentou. Cabelos compridos e ondulados. Tom natural.
O Pedro sorriu, fazendo um ar de entendimento – Já sei! Estás a falar da Mar.
- Quero o nome verdadeiro dela – pediu o Ricardo – Nada de nomes artísticos.
- Mas eu estou a dizer-te o nome verdadeiro dela – Mar – insistiu o Pedro – Maria do Mar. Mas porque é que estás tão interessado?
O Ricardo coçou pensativamente o queixo e ficou calado durante uns momentos. O Pedro estranhou aquele silêncio. O que se estaria a passar na cabeça dele? Era sempre difícil imaginar o que é que o Ricardo pretendia fazer a seguir. Ele era aquele tipo de pessoa que fazia o que lhe apetecia mais ou menos ao sabor do vento. Era sabido entre aqueles que eram seus amigos que não gostava de manter uma relação durante muito tempo e que punha o seu profissionalismo à frente de qualquer coisa. Muitos chamavam-lhe calculista e as mulheres diziam que ele era frio, mas fora graças à sua frieza que chegara à posição que ocupava hoje. Ele continuava calado por isso o Pedro insistiu na pergunta – Diz lá qual é o teu interesse pela miúda.
- Se ma apresentares talvez eu te possa dizer qual é o meu interesse.
O Pedro encolheu os ombros e encaminhou-se para os camarins. O Ricardo seguiu-o apressado. A porta estava entreaberta e lá dentro podia ver-se uma dúzia de pessoas entre modelos e repórteres.
- Mar! – chamou o Pedro, levantando a voz para se fazer ouvir no meio do ruído.
Uma rapariga levantou-se e caminhou indolentemente na sua direcção. Tinha uma espécie de quimono de seda vestido e o cabelo preso através de um simples elástico. Tinha um ar extremamente jovem: os olhos eram verdes e perfeitamente incrustados no rosto redondo. Os lábios eram cheios e pareciam exageradamente grandes em comparação com o resto. A pele tinha um tom claro contrastando fortemente com o abundante cabelo escuro. Estacou a uns passos deles e esperou.
- Queria apresentar-te aqui uma pessoa que mostrou imensa vontade de te conhecer – disse o Pedro.
Ela desviou o olhar para o Ricardo e fixou os seus olhos verdes nele que a observava fascinado. Ao fim de alguns segundos o rosto iluminou-se-lhe num largo sorriso – É você que me quer conhecer? – indagou ela curiosa.
O seu timbre de voz ecoou estranhamente dentro da cabeça do Ricardo; não era bem aquilo que ele esperava ouvir. O tom era baixo, quase sussurrado, e as palavras ditas pausadamente.
- É ele, é – confirmou o Pedro, apressado – Pronto Ricardo, estás à vontade. Esta é a Mar. Mar, este é o Ricardo. Sejam felizes! – virou costas e correu para a porta por onde acabavam de entrar mais algumas pessoas.
Eles riram-se e o Ricardo aproveitou o momento de descontracção para lhe falar – Desculpe tê-la incomodado mas precisava mesmo de a conhecer. A sua semelhança com uma pessoa que eu conheci é extraordinária.
- Não me incomoda nada. Fico muito contente por o conhecer.
- Não me diga!
- Mas claro! Já o conhecia de nome, é óbvio. Aliás, a maior parte dos meus amigos conhece-o, pelo menos, de nome.
O Ricardo sentiu-se a corar e ficou ligeiramente embaraçado. Era ridículo sentir-se assim diante de uma rapariguinha mas aquela não era uma rapariguinha qualquer; tinha quase a certeza que não. – Eu continuo muito admirado com a parecença que existe com uma pessoa que conheci há muito tempo. De certeza que não é uma simples coincidência de traços…
Ela interrompeu-o – Se calhar conheceu a minha mãe.
Foi como se um raio o tivesse atingido. Durante segundos tudo dançou à sua volta. Filha… mãe… o que é que aquela miúda estava a dizer? Não devia ter ouvido bem ou então era alguma terrível partida do destino e ele sempre acreditara no destino.
- Deve ser isso, não? – insistiu ela – A minha mãe chamava-se Mariana.
A vontade de Ricardo foi de começar a rir às gargalhadas. Ele devia ter adivinhado que não existiam coincidências assim. Filha dela… e ele nunca soubera.
- O que foi? - perguntou ela parecendo admirada – Disse alguma coisa que não devia?
Ele passou a mão pela testa húmida e suspirou – Não, quer dizer, talvez.
- Não estou a perceber.
- Eu conheci a sua mãe – disse ele simplesmente – Não sabia que ela tinha tido uma filha
Ela esboçou um sorriso, mas logo de seguida ficou com um semblante sério – Eu não me lembro dela. Se calhar, você conheceu-a melhor do que eu.
- Se calhar… – A voz dele deixou de se ouvir como se uma brisa a tivesse levado. Ficou calado durante largos segundos, sem conseguir coordenar as ideias.
- O que foi? Você olha para mim de uma forma tão estranha.
- Desculpe! Não é de propósito, mas não consigo evitar – justificou-se ele.
Ela sorriu e ficou também em silêncio sem saber o que dizer.
- Bem, eu vou indo – disse ele – Tenho pessoas à minha espera.
- Então até à próxima!
- Até à próxima!
Ela estendeu-lhe uma mão delgada. O Ricardo apertou-lha sentindo a suavidade da sua pele. Havia um leve aroma que se desprendia dela e que ficava a pairar no ar. Ele achou que era altura de sair dali rapidamente – Nós vemo-nos por aí – Saiu mergulhando novamente no mar de gente. Estava zonzo e a precisar urgentemente de um cigarro. Tirou o maço do bolso e puxou um para fora. Agora até os cigarros eram estilizados com motivos estranhos o que ele considerava uma estupidez já que se acabava por fumar tudo. Acendeu-o e expeliu profundamente. No espaço de uns breves minutos tinha ficado a saber coisas que ignorara anos a fio. Tinha perdido contacto com a mãe dela há muito tempo e só soubera da sua morte através de amigos, mas nunca ninguém lhe dissera que havia uma filha. Perdido nestes pensamentos não se apercebeu que a Sofia se aproximara. Ela passou-lhe os braços à volta do pescoço – Olá!
- Olá! Vamos para casa, sim?
- Casa? – perguntou ela admirada. A surpresa dela era genuína já que nunca tinham estado juntos sem ser em lugares públicos.
- Anda Sofia! Quero sair daqui – insistiu ele, impaciente.
Ela resolveu não dizer nada. Teria oportunidade de lhe perguntar o que sucedera, mais tarde."
Ele puxou-o para um sítio mais retirado, fazendo sinal à Sofia para esperar – Tenho que conhecer uma das miúdas!
O Pedro olhou espantado para ele – Não me digas que já estás cansado da Sofia!
O Ricardo abanou a cabeça em sinal de impaciência – Não tem nada a ver com isso. Só preciso de saber quem ela é.
- OK. E estás a falar de quem?
- Aquela rapariga que desceu as escadas e se sentou. Cabelos compridos e ondulados. Tom natural.
O Pedro sorriu, fazendo um ar de entendimento – Já sei! Estás a falar da Mar.
- Quero o nome verdadeiro dela – pediu o Ricardo – Nada de nomes artísticos.
- Mas eu estou a dizer-te o nome verdadeiro dela – Mar – insistiu o Pedro – Maria do Mar. Mas porque é que estás tão interessado?
O Ricardo coçou pensativamente o queixo e ficou calado durante uns momentos. O Pedro estranhou aquele silêncio. O que se estaria a passar na cabeça dele? Era sempre difícil imaginar o que é que o Ricardo pretendia fazer a seguir. Ele era aquele tipo de pessoa que fazia o que lhe apetecia mais ou menos ao sabor do vento. Era sabido entre aqueles que eram seus amigos que não gostava de manter uma relação durante muito tempo e que punha o seu profissionalismo à frente de qualquer coisa. Muitos chamavam-lhe calculista e as mulheres diziam que ele era frio, mas fora graças à sua frieza que chegara à posição que ocupava hoje. Ele continuava calado por isso o Pedro insistiu na pergunta – Diz lá qual é o teu interesse pela miúda.
- Se ma apresentares talvez eu te possa dizer qual é o meu interesse.
O Pedro encolheu os ombros e encaminhou-se para os camarins. O Ricardo seguiu-o apressado. A porta estava entreaberta e lá dentro podia ver-se uma dúzia de pessoas entre modelos e repórteres.
- Mar! – chamou o Pedro, levantando a voz para se fazer ouvir no meio do ruído.
Uma rapariga levantou-se e caminhou indolentemente na sua direcção. Tinha uma espécie de quimono de seda vestido e o cabelo preso através de um simples elástico. Tinha um ar extremamente jovem: os olhos eram verdes e perfeitamente incrustados no rosto redondo. Os lábios eram cheios e pareciam exageradamente grandes em comparação com o resto. A pele tinha um tom claro contrastando fortemente com o abundante cabelo escuro. Estacou a uns passos deles e esperou.
- Queria apresentar-te aqui uma pessoa que mostrou imensa vontade de te conhecer – disse o Pedro.
Ela desviou o olhar para o Ricardo e fixou os seus olhos verdes nele que a observava fascinado. Ao fim de alguns segundos o rosto iluminou-se-lhe num largo sorriso – É você que me quer conhecer? – indagou ela curiosa.
O seu timbre de voz ecoou estranhamente dentro da cabeça do Ricardo; não era bem aquilo que ele esperava ouvir. O tom era baixo, quase sussurrado, e as palavras ditas pausadamente.
- É ele, é – confirmou o Pedro, apressado – Pronto Ricardo, estás à vontade. Esta é a Mar. Mar, este é o Ricardo. Sejam felizes! – virou costas e correu para a porta por onde acabavam de entrar mais algumas pessoas.
Eles riram-se e o Ricardo aproveitou o momento de descontracção para lhe falar – Desculpe tê-la incomodado mas precisava mesmo de a conhecer. A sua semelhança com uma pessoa que eu conheci é extraordinária.
- Não me incomoda nada. Fico muito contente por o conhecer.
- Não me diga!
- Mas claro! Já o conhecia de nome, é óbvio. Aliás, a maior parte dos meus amigos conhece-o, pelo menos, de nome.
O Ricardo sentiu-se a corar e ficou ligeiramente embaraçado. Era ridículo sentir-se assim diante de uma rapariguinha mas aquela não era uma rapariguinha qualquer; tinha quase a certeza que não. – Eu continuo muito admirado com a parecença que existe com uma pessoa que conheci há muito tempo. De certeza que não é uma simples coincidência de traços…
Ela interrompeu-o – Se calhar conheceu a minha mãe.
Foi como se um raio o tivesse atingido. Durante segundos tudo dançou à sua volta. Filha… mãe… o que é que aquela miúda estava a dizer? Não devia ter ouvido bem ou então era alguma terrível partida do destino e ele sempre acreditara no destino.
- Deve ser isso, não? – insistiu ela – A minha mãe chamava-se Mariana.
A vontade de Ricardo foi de começar a rir às gargalhadas. Ele devia ter adivinhado que não existiam coincidências assim. Filha dela… e ele nunca soubera.
- O que foi? - perguntou ela parecendo admirada – Disse alguma coisa que não devia?
Ele passou a mão pela testa húmida e suspirou – Não, quer dizer, talvez.
- Não estou a perceber.
- Eu conheci a sua mãe – disse ele simplesmente – Não sabia que ela tinha tido uma filha
Ela esboçou um sorriso, mas logo de seguida ficou com um semblante sério – Eu não me lembro dela. Se calhar, você conheceu-a melhor do que eu.
- Se calhar… – A voz dele deixou de se ouvir como se uma brisa a tivesse levado. Ficou calado durante largos segundos, sem conseguir coordenar as ideias.
- O que foi? Você olha para mim de uma forma tão estranha.
- Desculpe! Não é de propósito, mas não consigo evitar – justificou-se ele.
Ela sorriu e ficou também em silêncio sem saber o que dizer.
- Bem, eu vou indo – disse ele – Tenho pessoas à minha espera.
- Então até à próxima!
- Até à próxima!
Ela estendeu-lhe uma mão delgada. O Ricardo apertou-lha sentindo a suavidade da sua pele. Havia um leve aroma que se desprendia dela e que ficava a pairar no ar. Ele achou que era altura de sair dali rapidamente – Nós vemo-nos por aí – Saiu mergulhando novamente no mar de gente. Estava zonzo e a precisar urgentemente de um cigarro. Tirou o maço do bolso e puxou um para fora. Agora até os cigarros eram estilizados com motivos estranhos o que ele considerava uma estupidez já que se acabava por fumar tudo. Acendeu-o e expeliu profundamente. No espaço de uns breves minutos tinha ficado a saber coisas que ignorara anos a fio. Tinha perdido contacto com a mãe dela há muito tempo e só soubera da sua morte através de amigos, mas nunca ninguém lhe dissera que havia uma filha. Perdido nestes pensamentos não se apercebeu que a Sofia se aproximara. Ela passou-lhe os braços à volta do pescoço – Olá!
- Olá! Vamos para casa, sim?
- Casa? – perguntou ela admirada. A surpresa dela era genuína já que nunca tinham estado juntos sem ser em lugares públicos.
- Anda Sofia! Quero sair daqui – insistiu ele, impaciente.
Ela resolveu não dizer nada. Teria oportunidade de lhe perguntar o que sucedera, mais tarde."
Love and ligth!