segunda-feira, outubro 30, 2006

O melhor português

A RTP lançou um desafio à população em geral que é a escolha do melhor português. Parece que há uma lista previamente definida para que o público possa então escolher o melhor português. Ainda não vi essa lista, mas parece que há alguma polémica à volta do facto dessa lista, inicialmente, não incluir nomes como Salazar ou Marcelo Caetano. A explicação dada pela RTP é que alguns nomes entrariam faseadamente. No entanto, não é essa polémica que me leva a escrever este post, mas sim a vontade de dar o meu humilde contributo para essa lista, acrescentando alguns nomes que certamente não estão lá contemplados. Assim, eu começaria por uma figura que é um ícone em terras algarvias e que dá pelo sugestivo nome de Zézé Camarinha. O Zézé Camarinha é, quiçá, o maior engatatão de todos os tempos em terras lusas. Por ter contribuído de uma forma inegável para a promoção do nosso país junto a incautas "camones", eu penso que é justo que lhe seja prestado tributo. Outro nome que eu penso que deve incluir a lista é o de José Castelo Branco. Castelo Branco representa o "verdadeiro artista", exímio domador de leões, trapezista social, "palhaço" a tempo inteiro. Pelas suas multifacetadas apetências e por ser o mais chique dos portugueses, eu penso que Castelo Branco é um nome a considerar. Na área da visibilidade social, conseguindo mesmo, ultrapassar Castelo Branco, proponho o Emplastro. O Emplastro é, porventura, o português que mais vezes apareceu na televisão. Por isso e por ser também extremamente fotogénico, considero fazer todo o sentido a inclusão do Emplastro na lista. No campo político proponho Manuel Maria Carrilho por personificar a seriedade, autenticidade, fair-play em debate com os seus adversários e, incontestavelmente, por trazer para Portugal essa novidade espectacular de utilizar Bárbara Guimarães e seu rebento em campanha política por ruas da capital. Floribella é o nome que se segue. Por ter levado à histeria milhares de criancinhas portuguesas, por ter lançado a moda das saias rodadas com tule a aparecer por baixo e por ter dado um contributo inestimável para a língua portuguesa com o seu "hiper-super.........não sei o quê fixe", faz sentido que se lhe preste homenagem. Na música, confesso ter alguma dificuldade em escolher, tantos são os talentos nesta área. Depois de muito reflectir, decidi que Zé Cabra é aquele que melhor ilustra esse fenómeno tão português que é a música "pimba". Pela riqueza das letras, sonoridade melodiosa da voz e inovador visual, penso que Zé Cabra é o que melhor pode representar a música. Gostaria também de incluir o padre Borga, por razões óbvias, mas tenho medo de ferir susceptibilidades e eu sou uma pessoa muito respeitadora. Agradeço que me enviem as vossas sugestões para que possamos acrescentar mais nomes à lista.
(Ai que me faltou o Vale e Azevedo...)
Love and ligth!

quinta-feira, outubro 26, 2006

Papelinhos

Pegando num livro, serenamente adormecido na minha estante, encontrei dois papelinhos rabiscados à pressa. As letras formaram palavras e as palavras recordaram-me tempos idos, quando eu tinha tempo para apontar freneticamente tudo o que lia e, de algum modo, me interessava. Agora, tenho que contar com o que me chega às mãos, quase por artes mágicas.
Primeiro papelinho (por ordem de leitura)
"Onde li eu que no momento final, quando a vida, superfície sobre superfície, se incrustou de experiência, saberás tudo, o segredo, o poder e a glória, porque nasceste, porque estás a morrer, e como tudo poderia ser de outra maneira? És um sábio. Mas a sabedoria maior, nesse momento, é saber que só o soubeste demasiado tarde. Compreende-se tudo quando não há mais nada a compreender."
in O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco
Segundo papelinho
"Porque eu sou a primeira e a última. Eu sou a venerada e a odiada. Eu sou a prostituta e a santa."
Fragmento de Nag Hammadi
A frase constante do segundo papelinho esteve afixada no meu quarto, quando eu estudava em Coimbra, até um belo dia a minha mãe se abeirar e perceber horrorizada o que eu tinha em destaque na parede. Em vão, tentei explicar o melhor que pude que não tinha mal nenhum até porque estava lá a palavra "santa". Levei um sermão e tive que retirar a frase. Encontrei-a agora, passados anos...
Love and ligth!

terça-feira, outubro 24, 2006

O piercing

O trabalho tem sido muito o que não me deixa muito tempo livre e me impossibilita de manter este blog tão actualizado quanto eu gostaria. Hoje, no entanto, arranjei um tempinho livre para trazer a Mel de volta. Ainda se lembram dela?
"Sinto uma dor e cerro os dentes.
- Ora, cá está! Agora é só... e, pronto! Vá, vê-te lá ao espelho!
Levanto-me da cadeira, sentindo um ligeiro ardor na pele e olho-me ao espelho. O piercing minúsculo brilha no meu nariz e dá-me uma incontornável vontade de rir ao imaginar a reacção do formador da próxima vez que for assistir a uma aula minha. Na verdade, se hoje acabei de fazer mais um piercing, posso dizer que o devo ao referido senhor. Tudo se passou na reunião que aconteceu depois de mais uma ronda de assistências. Quando chegou a minha vez de ser avaliada, ele não foi nada complacente e, pura e simplesmente, arrasou-me. Disse que eu tinha cometido erros científicos, que não tinha evoluído nada desde a última assistência e que me tinha arriscado a ouvir algo menos próprio pela forma como respondi a um aluno. Fiquei um pouco surpreendida com uma crítica tão acutilante porque a percepção com que eu tinha ficado é que a aula não tinha corrido assim tão mau. Ainda assim, não contra-argumentei, decidida a ouvir pacientemente e em silêncio as observações dele. Mas depois ele começou a tecer comentários acerca da forma como eu me arranjava, acrescentando que não era a mais adequada para uma professora. Desancou nos meus jeans e nas minhas All Star e terminou dizendo que eu tinha que perceber que já não estava na faculdade, mas sim num local onde tinha responsabilidades. Comecei a sentir o nervosismo a tomar conta de mim e não me contive, acabando por lhe dizer que a indumentária não estava directamente relacionada com a competência científica de uma pessoa e se, relativamente à avaliação da minha aula, eu não tinha dito nada, no entanto, considerava que a forma como eu me vestia era uma questão pessoal que não era para ali chamada. Ele tirou os óculos e olhou para mim, espantado, e eu fiquei com a sensação que ele não estava habituado a ser afrontado. A Fernanda tentou deitar água na fervura, dizendo que aquilo era apenas um pormenor sem importância, mas eu não desarmei e insisti na minha ideia, reforçando que não ia abdicar da minha autenticidade em favor de convenções sem sentido. O formador voltou a colocar os óculos, a meio do seu nariz bolboso, e no seu tom falsamente paternal aconselhou-me a ouvir com mais atenção o que pessoas com mais experiência do que eu tinham para dizer. A Fernanda voltou a intervir, de uma forma peremptória, pondo fim à discussão e eu não voltei a abrir a boca, decidindo naquele preciso momento que a minha resposta iria ser dada na próxima assistência. Aquele piercing era a minha tomada de posição. Sei que a partir deste momento o meu estágio está perigosamente em risco, mas a verdade é que eu não posso permitir que um catedrático antiquado me discrimine, só pelo facto de eu não usar uma saia que suba o suficiente para que ele possa deitar olhadelas lúbricas às minhas pernas como faz com as minhas colegas.
- Obrigada Fred! Ficou óptimo!
Ele faz-me uma espécie de vénia e devolve o agradecimento - Obrigado eu. Ficaste linda. E a tatto, é para quando?
Eu rio-me antes de lhe responder - Para isso, ainda preciso de arranjar coragem.
Pago os serviços do Fred e saio, sentindo-me o máximo com o meu novo piercing. A única coisa que me preocupa vai ser a reacção da minha mãe. Para lhe dizer que tinha um piercing no umbigo deixei passar um ano inteiro e aproveitei a noite de Natal, quando a família estava toda reunida, para lhe dar conhecimento. Assim, ela não teve grandes hipóteses de ter um ataque. Agora este, não vai dar mesmo para esconder."
Prometo que voltarei o mais rápido que me for possível.
Love and ligth!

segunda-feira, outubro 16, 2006

Evolucionistas contra criacionistas

O texto que se segue não é da minha autoria. Resulta das minhas investigações sobre temas curriculares que tenho de leccionar. Não resisti, no entanto, a partilhá-lo com todos os meus blogamigos.
" A cruzada contra Darwin vai de vento em popa. Recorrendo a presumíveis argumentos científicos, as novas gerações de criacionistas procuram sabotar os alicerces da teoria da evolução para impor aquilo que baptizaram como «ciência da criação», que explica os processos de adaptação e a diversidade dos organismos terrestres pela intervenção de um Criador sábio. Sobretudo nos Estados Unidos e na Austrália, mas também no Brasil, em Itália, na Turquia e em outros países desenvolvidos, os antievolucionistas procuram semear na opinião pública dúvidas sobre a credibilidade científica da evolução, fazem crer que a criação divina constitui uma alternativa à teoria de Darwin e que deve, por conseguinte, ser ensinada nas aulas de Ciências Naturais e incluída nos manuais escolares, enquanto lutam nos tribunais para que os governos imponham aos professores dos estabelecimentos públicos o ensino dos novos postulados do criacionismo.
As universidades norte-americanas estão preocupadas com o crescente analfabetismo científico que impera no país. Todos os anos aumenta o número de estudantes que acredita que «a comunidade científica está dividida sobre a evolução», e que «a evolução é uma teoria por provar». É a própria comunidade científica que chama a atenção para a suposta «ciência da criação» que é, na verdade, uma pseudociência. A teoria da evolução é sólida como o granito e os antievolucionistas menosprezam e manipulam os métodos científicos e os debates entre investigadores para defenderem os seus princípios religiosos e aspirações políticas.
Mas este alerta dos cientistas é abafado pela propaganda dos criacionistas que conseguiram semear a confusão entre aqueles que não sabem muito bem o que defende e representa a teoria da evolução. A maior parte dos cidadãos dos Estados Unidos acredita em algum mito ou superstição em torno do aparecimento da vida. É isso que mostra um inquérito realizado em 2001 por uma organização que estuda há 70 anos a natureza e o comportamento humanos. Cerca de metade dos norte-americanos acredita no criacionismo. 45% dos inquiridos pensa que Deus criou o ser humano há mais ou menos 10 mil anos. Embora a outra metade aceite que a nossa espécie resulta de um processo evolutivo que se prolongou por milhões de anos, 37% das pessoas deste grupo está convencida que o dedo divino interveio em algum momento. O inquérito também demonstra que há mais norte-americanos a acreditarem em Satanás do que na evolução. (...)
Como não podia deixar de ser, A Origem das Espécies irrompeu no mundo teológico como um elefante numa loja de porcelanas, pois punha em causa a história das origens da vida relatada no Genesis bíblico. A obra de Darwin, ao sobrepor a selecção natural à Mente Criadora, foi acusada de ser uma enorme fraude e uma tentativa para destronar Deus. Todavia, a Igreja, ultrapassada pelas provas científicas a favor da teoria da evolução, começou a admitir gradualmente que o darwinismo não era incompatível com a fé religiosa. Na encíclica Humani Generis, publicada em 1950, Pio XII admitia a evolução como uma hipótese legítima, mas considerava que era insuficientemente sustentada e potencialmente incerta. Quase meio século depois, em 1996, João Paulo II emitiu um comunicado no qual convidava os cristãos a considerarem o processo evolutivo como um facto efectivamente comprovado. Embora a maior parte da hierarquia católica considere a Bíblia como alegórica, há muitas seitas protestantes e católicas que defendem o criacionismo literal pois levam à letra relatos como os de Adão e Eva ou da Arca de Noé. (...)
Apesar dos reveses, os criacionistas que interpretam a Bíblia de forma literal não se deram por vencidos e continuam a semear a confusão nas suas instituições de investigação, museus, páginas da Internet, livros, panfletos. Insistem que a teoria da evolução está errada e que têm provas científicas para a rebater. O presidente Ronald Reagan fez eco desta propaganda ao referir-se à evolução como «uma teoria, apenas uma teoria científica e, nos últimos anos, tem sido posta em causa no mundo da ciência». E o recém-reeleito presidente George W. Bush assim como alguns membros de peso do seu governo afirmam abertamente serem criacionistas.
É certo que a evolução é uma teoria, mas é provavelmente a mais bem documentada de toda a ciência. (...) Os avanços da genética e da biologia molecular deram um corpo sólido às noções vagas de hereditariedade e de variabilidade com que Darwin e os seus contemporâneos se tinham de contentar."
(adaptado de «De onde viemos ? Polémica científica sobre as origens e a evolução do Homem », Superinteressante, Março 2005)
Para que conste, eu sou agnóstica, quase ateia, mas respeito a crença de cada um ( não confundir crença com obtusidade).
Love and ligth!

quarta-feira, outubro 11, 2006

Filosofia vs Psicologia

Este ano lectivo sinto-me como um peixe fora da água. A minha escola não é das mais agradáveis (algumas das razões já foram apontadas num post anterior), e, infelizmente não estou a leccionar Filosofia mas sim Psicologia. Não que eu tenha algo contra a Psicologia, mas a verdade é que não é a mesma coisa, senão vejamos: programas extensíssimos, manuais prolixos (quando os há...) e conteúdos exigentes demais para uma simples professora de Filosofia. A verdade é que na faculdade nunca tive nenhuma cadeira de Psicologia. Tive apenas uma treta chamada Psicologia Educacional, na qual se aprendia rigorosamente nada e cujas frequências eram simples testes americanos. Sendo assim, não me sinto muita à vontade para falar na constituição do cromossoma, na estrutura do ADN, em aminoácidos, bactérias e muitas outras coisas que ainda vou ter que estudar ao longo do ano. Evidentemente que, acerca de alguns conteúdos, eu tenho umas "luzes", mas isso não basta principalmente quando se está a dar aulas a alunos do 12º ano e que ainda por cima são de Ciências. Depois acontecem situações como estas: «Qual é a constituição dos cromossomas?» e os alunos começam a responder, utilizando para tal, termos que eu não domino. «Calma» digo «Eu só queria que me dissessem que o cromossoma é constituído por genes» acrescento, humildemente. Ou então, esta: a propósito das áreas corticais e das suas funções, pergunta uma aluna, diligentemente «Então a impotência é causada por uma lesão no hipotálamo?». Resolvi responder francamente e confessar a minha ignorância, em vez de me arvorar em grande conhecedora do assunto «Bem, o hipotálamo regula o impulso sexual, mas não sei se uma lesão no hipotálamo tem alguma coisa a ver com o problema da impotência. Que tal perguntar à sua professora de Biologia? Entretanto, eu vou também ver se descubro a resposta.» Depois, para me sentir melhor e demonstrar algum conhecimento sobre o assunto, expliquei que muitas vezes a impotência tem uma causa psicológica e divaguei um pouco sobre o tema. O problema é que tenho três Psicologias diferentes: Psicologia A 12º ano (os conteúdos desta são acessíveis, mas o problema reside no facto de não existir manual editado. Se há dois anos já houve Psicologia A 10º ano e o ano passado Psicologia A 11º ano porque é que o manual do 12º ainda não existe? Não sabiam que depois do 11º ano se segue o 12º ano?!!); Psicologia A 11º ano, cujo programa começa pela filogénese e antropogénese, assunto que eu domino, mas não com as miudezas infinitas que o único manual que existe contém. O que é que eu percebo de interacções entre moléculas, proteínas, aminoácidos, ADN e ARN? Por fim, tenho Psicologia B 12º ano e os conteúdos começam pela genética e pelo sistema nervoso central. Sendo assim, tenho saudades da minha Filosofia, espaço onde me sinto perfeitamente em casa, onde posso tentar desbravar caminhos, onde tento clarear conceitos, onde tento abanar ideias feitas, preconceitos... Não posso fazer isso em Psicologia? Posso. Alguns conteúdos prestam-se ao debate, mas a questão é que com um programa tão extenso para cumprir, não é exequível gastar o precioso tempo em discussões. Este é, portanto, mais um paradoxo do nosso ensino que pode ser colmatado se colocarem psicólogos a leccionar as disciplinas de Psicologia e contra mim falo porque a acontecer isso são muitos horários que deixam de existir para o grupo de Filosofia. Disseram-me que já estão a sair alguns licenciados de Psicologia-via ensino, o que me parece mais um paradoxo porque se eu tivesse ido para Psicologia não seria certamente para dar aulas, mas esta é apenas a minha perspectiva. Tenho, portanto, saudades das minhas aulas de Filosofia que não servem apenas para debitar matéria, mas também para alargar horizontes. Muitos adolescentes são extremamente preconceituosos (demonstram algumas atitudes racistas, outras discriminatórias ao nível da preferência sexual de cada um, ou então ao nível do culto religioso...) e dá-me sempre um enorme prazer tentar que eles vejam estes assuntos sobre uma outra perspectiva. Recordo-me de há dois anos estar numa escola onde alegadamente havia um miúdo homossexual. A primeira vez que ouvi falar dele foi pelos alunos de uma das minhas turmas que se referiram a ele como «sabe s'tora, ele é... larilas». Aproveitei logo a deixa para falar um pouco sobre o assunto e para tentar desmistificar aquilo que me fosse possível. «Vocês nunca pensaram que para além desses nomes estereotipados que lhe chamam está uma pessoa igualzinha a vós, com sentimentos, e que, eventualmente está a sofrer por ser tratada dessa forma?». Este foi o meu ponto de partida para falarmos de muitas coisas relacionadas com a homossexualidade e, no final, tive o prazer de ver gestos de assentimento e expressões pensativas. Indiquei-lhes alguns livros onde poderiam ler relatos de casos de homossexualidade e da vivência tortuosa das personagens, muito em parte, em virtude da incompreensão da sociedade. Passados uns dias dois ou três alunos informaram-me que estavam a ler «aquele livro do Daniel Sampaio». São algumas pequenas vitórias que enchem o meu ego de orgulho. Nessa mesma escola, partilhei com um colega de Filosofia este facto e ele reprovadoramente respondeu-me «andas a incitar os alunos a considerarem natural um processo que é contra-natura?». Ele é de Filosofia! Devia ter um espírito aberto, mas depois constatei que ele também era contra o uso do preservativo e que o sexo era só para procriar. Claro que lhe tive que dizer «Coitada da tua mulher!». Era um colega simpático, tirando estas diferenças insuperáveis entre a minha forma de ver as coisas e a dele. Este ano continuarei então com as minhas psicologias, esperando que o próximo ano me traga outros raios de sol.
Love and ligth!

sábado, outubro 07, 2006

Repúblicas e Monarquias

Há três dias comemorou-se o Dia Mundial do Professor. Não me apeteceu comemorar porque acho que não há nada para comemorar (estou desiludida, cansada e farta de falar sobre este assunto). Foi também o aniversário da Implantação da República. Não me apeteceu comemorar porque acho que não há nada para comemorar (com o actual rumo que o nosso país leva, não sei o que pensar desta "república"). Esta cogitação traz-me à lembrança os meus bloamigos do Condado que são convictamente monárquicos e estão profundamente tristes por se celebrar mais um ano sob a implantação da República. Num comentário que fiz a um post deles, alguém me perguntou «então, das Cruzes de Cristo nos jeans? Não ficou nenhuma reminiscência?» e eu lembrei-me que nos meus loucos anos de faculdade, pejava as calças de ganga de Cruzes de Cristo, primorosamente traçadas, ouvia Heróis do Mar e Sétima Legião, defendia a independência da Galiza e sonhava com caravelas ao vento. Foi o meu período de exaltação patriótica. Continuo a gostar do meu país. Já expressei, em blogs que visito, as minhas opiniões acerca de assuntos que, directa ou indirectamente, remetem para o conceito de pátria e nelas está sempre presente a mesma ideia: gosto de Portugal. Gosto do país, à beira-mar plantado, com uma posição geográfica invejável que, na minha modesta perspectiva, devia ser melhor explorada. Gosto do clima ameno, quando comparado com outros países da Europa, que permite que possamos desfrutar do campo, da praia, das montanhas, dos rios. Gosto das aldeias perdidas, aninhadas no sopé de um monte, das casas de pedra acotoveladas, da hospitalidade das gentes. Gosto da nossa longa história que nos fez um povo de marinheiros e que inspirou Camões e Pessoa. Gosto da saudade. Não gosto dos nossos governantes, ou melhor, da política seguida pelos nossos governantes que parecem obstinados em querer afundar o nosso país. Não sei se a culpa é deste governo, daquele ou do outro. Do que me lembro das minhas aulas de História do Secundário, a perda do papel preponderante que Portugal teve no mundo e o atraso económico não são de agora, nem de há cem anos. A minha personagem favorita dos Maias, o Ega, ateu e de ar mefistofélico já o dizia: "Aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilos, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes, pelo paquete. A civilização custa-nos caríssimo, com os direitos de Alfândega: e é em segunda mão, não foi feita por nós, fica-nos curta nas mangas...". Estes nossos governantes consideram que os problemas que atravessam o país se resolvem fechando escolas, maternidades, urgências de hospitais, congelando salários, desmoralizando trabalhadores, assistindo impávidos à deslocalização de empresas. Estes factos levam-me a reflectir e à crucial interrogação: é esta a república que eu quero? Estaríamos melhor com um D.Dinis, soberano culto, que fundou a primeira universidade do país, instituiu o português como língua oficial em todos os documentos judiciais e cultivou a diplomacia, ainda que fosse um guerreiro de respeito? Ou então com D. João II que, segundo reza a história, era um rei inteligente, competente e de vistas largas? Isto soa, muito provavelmente, a lirismos. Os tempos são outros e já não se fazem soberanos assim. Repúblicas ou monarquias à parte, o que eu queria ver aceso era o espírito da portugalidade, em tudo o que ele teve de bom e gostava de o ver reflectido nos nossos governantes cinzentos, agarrados às suas ideias pequeninas, convencidos que são melhores do que todos os outros. Assim, precariamente equilibrada nesta dúvida existencial, penso que parto numa dessas caravelas da minha imaginação e aporto num lugar longínquo onde a realidade seja substancialmente diferente.
Love and ligth!