quinta-feira, maio 24, 2007

Publicidade




Quando estamos doentes, inevitavelmente, acabamos por vegetar em frente ao ecrã de televisão; eu não sou, obviamente excepção. Durante esta semana estive adoentada e numa dessas minhas minhas estupidificantes tardes deitada no sofá, dei por mim a ver "com olhos de ver" a publicidade que passa nos diferentes canais. A minha primeira reflexão vai para os anúncios a produtos que limpam, desinfectam, desentopem, etc. Porque é que os senhores publicitários insistem em mostrar cozinhas escandalosamente sujas, fogões carregados de gordura, sanitas impróprias para uso, etc, etc, etc... ? Será que alguém, com normais hábitos de higiene, alguma vez deixaria a sua casa chegar a tal ponto? Atribui a este tipo de anúncios a classificação de "desmesuradamente exagerados". Há um anúncio a uma marca de ice tea que eu confesso não conseguir atingir o alcance da piada (se é que ela existe) - mudasti? Qual é objectivo? Fazer passar a ideia de que mudamos depois de beber um gole de tal bebida? Se alguém souber qual é o objectivo, por favor elucide-me. A este atribui a classificação de "sem nexo". As considerações seguintes vão para o anúncio do "trim, trim, trim, trim" ao qual atribui duas classificações: "o mais irritante" e o "mais patético". Relativamente ao primeiro aspecto, penso que não preciso de explicar por que é que ele é irritante; basta ouvir. Em relação ao segundo aspecto, nada mais patético do que imaginar três adolescentes, cheias de más intenções (ou boas, depende da perspectiva) na sala de um quarentão, ao meio da noite. Outro tipo de anúncios que também mereceram a minha atenção foram os dos detergentes para a roupa ou então para a louça. Um destes anúncios, em particular, diz qualquer coisa deste género «o único a desenhar um sorriso na cara das mulheres». Mulheres? Porquê mulheres? Até parece que é tarefa exclusiva das mulheres lavar louça. Sorriso? Sim, nada pode dar mais felicidade a uma mulher do que um copo cintilantemente a brilhar! Ai, ai, senhores publicitários, estão ultrapassados! A estes atribui a classificação de "vergonhosamente sexistas".

Por outro lado, há excelentes anúncios que denotam uma imaginação fantástica. Mas vou deixar essa análise para os meus blogamigos. Quais são os vossos eleitos?



Love and ligth!

quarta-feira, maio 16, 2007

Blogosérie interactiva - 9m 32s - Episódio 3

O meu blogamigo Capitão-Mor iniciou mais uma blogsérie, desta vez interactiva. O esquema é simples: ele escreveu o primeiro episódio e passou a continuação da história ao Lois que escreveu o segundo episódio. O Lois, por seu turno, passou a história para mim e eu apresento hoje o terceiro episódio. Espero estar à altura dos meus antecessores.

(...)- Mas que raio de merda é esta? - grita o Augusto Luís já lívido - Agora também já atiram pedras à janela?
O Ferreira corre até ao extremo da sala e encosta o nariz ao vidro, numa tentativa desesperada de perceber o que é que está a acontecer. Os breves segundos que decorrem, parecem a Augusto Luís, impaciente por natureza, longos minutos - O que foi? O que foi?
O Ferreira vira-se, com uma expressão indecifrável estampada no rosto.
- Mas o que é que se passa, porra? Diz de uma vez! - implora o amigo já em desespero.
- É granizo, pá! Está a cair pedra! Vê lá se te acalmas que já me estás a pôr os nervos em franja!
Ele engole em seco e deixa-se cair pesadamente em cima do sofá. Saca de mais um cigarro e com as mãos trémulas acende-o, inspirando profundamente.
- Vê lá se me queimas a porra do sofá!
- Cala-te lá com o sofá! Põe é a merda do DVD!
O Ferreira apanha o comando do chão que, entretanto, tinha ido pelos ares, coloca de novo o disco no aparelho e, como se estivesse pronto para disparar um revólver,aponta o comando ao DVD. Um silêncio sepulcral invade a sala e o medo que se apossa de ambos é quase palpável. O ecrã da televisão adquire um tom azulado e o Ferreira opta por sentar-se ao lado do Augusto Luís, prevenindo-se já contra algo que possa ver que lhe roube o equilíbrio. A primeira imagem que aparece é de uns pés e a câmara detém-se num primeiro plano, quase obsceno, naqueles pés grandes, descuidados, de unhas mal cortadas, dando tempo ao Ferreira e ao Augusto Luís para ficarem boquiabertos - Uns pés?!! - exclama o Ferreira, sentindo-se enojado - Mas o que significa isto?
O Augusto Luís atira-lhe um olhar mortal que o silencia de imediato. A câmara sobe lentamente e aparecem agora umas pernas magras, peludas, o que adensa ainda mais o clima de estupefacção que paira no ar.
- Que merda é esta? Um filme pornográfico de quinta categoria? - vocifera o Ferreira cada vez mais irritado.
A filmagem não dá tempo para mais nada porque logo a seguir a câmara começa novamente a subir e o ecrã é literalmente invadido por uns boxers brancos, semeados de ursinhos castanhos com laços vermelhos em redor dos pescoços.
No meio de todo aquele nervosismo, o Augusto Luís é assolado por um ataque de riso - Eh, eh, eh! Boxers com ursinhos!
É a vez do Ferreira se insurgir contra os comentários e lhe dar uma cotovelada. Ele volta a ficar sério, dá uma passa no cigarro que ficara meio esquecido entre os dedos e fixa o olhar naquela imagem estupidamente absurda de uns boxers a preencher todo o ecrã de uma televisão. Subitamente, a câmara desloca-se abruptamente e a imagem seguinte mostra um homem em tronco nu, de olhar assustado, com uma placa pendurada ao pescoço.
O Augusto Luís engasga-se com uma baforada de fumo e é acometido por uma tosse violenta, enquanto o Ferreira se levanta num pulo e corre em direcção à televisão - Que brincadeira vem a ser esta?
- Sai da frente, porra! - grita-lhe o Augusto Luís que, entretanto, também se levantara.
- Mas...mas... - gagueja o Ferreira - Aquele é... é...
- É o Reis!
- Foda-se, é o Reis! - repete o Ferreira, com um ar aparvalhado.
Pelas cabeças dos dois cruzam-se mil pensamentos. O Augusto Luís, sempre desconfiado, conjectura se não se tratará de uma partida; o Ferreira, mais crédulo por natureza, e com experiência em casos semelhantes, depressa se apercebe que estão diante de uma situação real. O pobre Reis, amedrontado, parece apático, confuso, olhando em seu redor como se procurasse uma saída para aquela situação constrangedora. Enquanto os dois se encontram imersos nos mais terríveis pensamentos, a imagem muda mais uma vez e agora o que aparece é o próprio Ferreira, descomposto, com uma caipirinha numa das mãos e abraçado a uma morena semi-nua - Olha, olha - grita - Sou eu!
- Claro que és tu! - atira o Augusto Luís começando a sentir suores frios - E aquele é o Reis - acrescenta, apontando para uma figura que salta de um lado para o outro em cuecas e meias. Aos poucos e poucos, todos acabam por aparecer no écrã - o Lemos, o Fonseca e o próprio Augusto Luís, completamente enrolado numa loira oxigenada. De repente, o écrã volta a ficar escuro e umas palavras surgem como por magia: "TEMOS O REIS. DECIFREM O ENIGMA. ENTRAREMOS EM CONTACTO."
O Ferreira e o Augusto Luís não aguentam mais; o primeiro dá um murro na televisão como se ela fosse culpada de alguma coisa e o Augusto Luís caminha furiosamente de um lado para o outro, esmaga a beata do cigarro que estivera a fumar no cinzeiro enquanto repete sem parar - O que é que vamos fazer? O que é que vamos fazer?
- Chantagem, é chantagem! - exclama o Ferreira - E ainda por cima têm o Reis! Coitado do Reis!
- Temos que entrar em contacto com os outros - lembra o Augusto Luís - Eles têm que saber. Vou ligar-lhes!
O Ferreira avança, decidido, em direcção ao amigo e arranca-lhe o telemóvel das mãos - Nada de telefonemas!
O Augusto Luís olha para ele, surpreendido, mas acata a ordem e o Ferreira devolve-lhe o telemóvel e logo de seguida avança para o leitor, retira o DVD cuidadosamente e guarda-o religiosamente no envelope - Vamos embora! - diz, tomando o comando da situação.
Saem em direcção ao patamar, a porta bate com estrondo e chamam o elevador. Entram e olham estupidamente para os seus rostos reflectidos pelo espelho enquanto aguardam que a descida comece o que parece durar uma eternidade. Quando finalmente a porta se começa a deslocar, alguém a trava com o braço e ela volta a recuar. Os dois voltam-se como se tivessem molas nos pés e no elevador entra uma mulher de óculos escuros que lhe cobrem parcialmente o rosto. A descida inicia-se, finalmente, e de repente, a voz dela corta o silêncio pesado que se instalou - São residentes?
Eles são apanhados de surpresa e é o Ferreira que acaba por falar - Como?
- Se moram aqui...
- Ah! - exclama ele - Eu moro.
Ela tira os óculos escuros e estende-lhe uma mão delgada - Muito prazer! Sou nova no prédio. Chamo-me Amélia.
O Ferreira ganha rapidamente a sua habitual desenvoltura e corresponde ao cumprimento - Muito prazer! Ferreira - aponta para o amigo e acrescenta - o meu amigo, Augusto Luís.
Ela dirige o olhar para ele e estende-lhe igualmente a mão que ele aperta, demorando mais tempo do que o estritamente necessário. Sente o leve aroma que se solta dos cabelos escuros e compridos, detém-se nos olhos esverdeados e ligeiramente rasgados e, subitamente, é como se tudo à sua volta desaparecesse, o DVD, o pobre Reis, o Ferreira e só restassem aqueles olhos que o fitam insistentemente. Sente-se fora do tempo e do espaço, capturado por aquela magnética presença."
Pormenor das imagens impressas na placa que o Reis tem pendurada no pescoço



Tenho agora que passar a bola a alguém; não vou pensar muito. Será do Capitão-Mor o privilégio (ou não) de tentar desembrulhar esta história.

Love and ligth!
O episódio quatro já está no ar!

segunda-feira, maio 14, 2007

Glory Box

Há quem diga que eu nunca mostro os meus estados de espírito, aqui neste blogomundo. Hoje estou assim...






Love and ligth!

segunda-feira, maio 07, 2007

Reminiscências

Uma muito querida amiga minha, sugeriu-me que eu escrevesse um post sobre a Queima, agora que estamos em Maio e é a altura em que, um pouco por todo o país, acontecem estes festejos. Escrevo Queima com maiscúla e no singular porque para mim só existe a Queima de Coimbra. A Queima do meu (nosso) tempo porventura não é a mesma dos dias de hoje. Andavamos grande parte do ano a desejar que chegassem esses dias para podermos desfrutar ao máximo. Não quer isto dizer que no resto do ano estavamos enfiados em casa e que só saíamos naquela altura. A questão é que aqueles dias tinham um sabor especial que os tornavam diferentes de todos os outros do ano. Era a emoção da Serenata nas escadas da Sé Velha, com aquele mar de gente até perder a vista, as capas negras, as violas, o silêncio respeitoso quando se cantava o fado; eram os jantares de curso ou simplesmente jantares de amigos num qualquer restaurante ou tasca de aspecto duvidoso (os nossos eram no senhor Lúcio, lembras-te amiga?); eram as noites no Parque até às quinhentas da manhã a dançar ao som de qualquer música mesmo que fosse o inevitável Quim Barreiros, a beber ginginhas, B52's (como naquele ano em que a nossa amiga C. foi trabalhar para uma dessas barraquinhas e passamos as noites a beber à pala e a fazer brindes a todos os amigos que por ali passavam); era o Chá Dançante e o Baile de Gala e apesar de, pessoalmente, não apreciar nenhum destes dois, era sempre giro ver as meninas a passar todas bem arranjadas para o baile nos seus vestidos compridos e penteados complicados, acompanhadas pelos seus pares; era a Garraiada na Figueira, evento onde só fui um ano mas que me faz soltar gargalhadas por um outro motivo (recordas-te de ires a descer a avenida para apanhar o comboio para a Figueira e eu ir a subir a mesma avenida de uma forma muito peculiar- um passo para a fente, dois para trás...); era o dia do Cortejo com o aparato dos carros, das flores, dos inevitáveis acidentes (era aquele que pegava fogo, o outro que não andava), as cartolas, as bengalas, as bebedeiras de caixão à cova de alguns (não era bonito de se ver...), enfim... São tantas as recordações, afinal foram cinco anos da minha vida, das nossas vidas, e por muito que viva sei que aqueles foram os melhores anos. Há tantas histórias que eu poderia contar e isso deixa-me feliz porque tenho o que contar, tenho muitas recordações, tenho um passado repleto de vivências e isso também nos faz viver e continuar a sonhar. Hoje, se calhar, perdeu-se algum do misticismo da Queima e o fenómeno está mais banalizado. Mas não importa, tive "the time of my life"
Love and ligth!