quinta-feira, junho 28, 2007

Berardo e lei laboral

Duas notícias captaram a minha atenção, nos últimos dias. A primeira está relacionada com o Joe Berardo que agora parece estar na berra. Confesso que só soube quem era o senhor quando ele apareceu num anúncio publicitário (mea culpa), ou melhor, não fazendo ideia quem era o senhor que aparecia no anúncio publicitário, tratei de descobrir. De repente, o senhor está em todas: ele é OPA's sobre o Benfica, ele é a criação de um banco do referido clube, ele é Museu Berardo mas ele é também, na minha perspectiva, alguma arrogância, falta de elegância (leia-se má-educação) o que prova a velha máxima que «nem tudo o que luz é oiro» e que adquire um significado especial quando aplicada a este senhor.
A outra notícia que gostava aqui de referir, prende-se com a nova lei laboral. Penso que as propostas são do conhecimento geral: menos dias de férias, menos subsídios (calculados tendo como referência o vencimento-base), maior facilidade nos despedimentos e aquela que verdadeiramente me assombrou - pausas para almoço mais curtas. Os senhores que propõe estas alterações consideram que uma hora para almoçar é tempo excessivo e que meia-hora serve perfeitamente. Meia-hora?!! Uma pessoa trabalha oito horas diárias (no mínimo) e tem direito a meia-hora para almoçar ou fazer outra coisa que lhe aprouver?!! Isto faz-me lembrar as políticas daquelas unidades fabris em que as pessoas apenas têm direito a ir uma vez à casa-de-banho... Poderia igualmente tecer considerações acerca das outras propostas, mas confesso que fiquei particularmente chocada com esta, talvez por achar importante que a pessoa tenha tempo para comer descansada, conversar um pouco, descansar, reflectir... em suma, parar um pouco, quebrar a rotina. Mas claro, que isto sou apenas eu a pensar...
Love and ligth!

sábado, junho 23, 2007

By nigth (III)

"(...)
O Ricardo sentou-se finalmente ao lado da Sofia. O longo cabelo dourado dela estava preso num penteado complicado e das orelhas pendiam-lhe uns brincos em espiral feitos de um material incrivelmente luminoso. Ele pegou-lhe delicadamente na mão – Estás linda! Acho que estou a gostar muito de ti – acrescentou.
- Ainda bem!
Ele sorriu e interiormente pensou porque razão é que tinha acabado de dizer aquilo. Era perfeitamente escusado fazer aquele tipo de confidências. Mais tarde ou mais cedo as coisas acabavam por não resultar, por isso para quê dizer aquelas lamechices? A verdade é que ele se tinha acomodado a um determinado tipo de situação: relações fortuitas em que os sentimentos não eram importantes, mas sim a atracção física. A aparência e o culto que se prestava ao corpo determinavam o tipo de relação que se estabelecia entre um homem e uma mulher. Uma mulher feia seria uma esplêndida amiga, mas não amante; uma mulher bonita, eventualmente, seria uma amante arrebatadora e se fosse extraordinária podia também tornar-se uma excelente amiga. O burburinho em volta trouxe-o de regresso à realidade. Era a expectativa normal enquanto se esperava pelo início do desfile. Começou a ouvir-se uma música suave e, ao longe, surgiu a primeira rapariga. A luz incidiu em cheio em cima dela e, lentamente, ela começou a descer os degraus. A música tornou-se mais frenética e ela rodopiou sobre si mesma. Atirou fora a capa que a envolvia e deixou ver um vestido arrojado. A música voltou a ser suave e a rapariga desfilou diante das centenas de olhos que a fitavam com curiosidade. A seguir apareceram mais modelos, todas elas vestindo roupas insinuantes. Houve um silêncio abrupto e as luzes diminuíram de intensidade. Voltou a surgir uma figura ao longe e a música voltou a ouvir-se. A figura feminina desceu os primeiros degraus e sentou-se. Uma cascata de cabelos ondulados invadia-lhe o rosto. Passados uns breves segundos, ela atirou a cabeça para trás, levantou-se e começou a descer resolutamente os últimos degraus. O vestido que ela trazia esvoaçava à medida que ela avançava e entreabria-se deixando as pernas a descoberto. A luz subiu-lhe pelo corpo envolvendo-a num tom de ouro e iluminou-lhe o rosto até aí na penumbra. De repente, o tempo voltou vertiginosamente atrás e o Ricardo viu-a diante de si: a dançar, a rir, com o cabelo ao vento… A sua imaginação galopou, passando por todos aqueles instantes. Num ápice reviu tudo… A rapariga desfilava diante de si e sorriu para o público num gesto de ternura. Ele seguiu-a atentamente com o olhar, como ainda não querendo acreditar. Não era possível uma semelhança tão grande; era ela, tal e qual, como se o tempo não tivesse passado.
(...)
O Ricardo tentou que o Pedro o visse, acenando-lhe. Ele estava rodeado por algumas das raparigas que tinham desfilado. O Ricardo voltou a acenar-lhe insistentemente até que ele finalmente o viu e se encaminhou, sorridente, na sua direcção – Então mestre? Tudo bem?
Ele puxou-o para um sítio mais retirado, fazendo sinal à Sofia para esperar – Tenho que conhecer uma das miúdas!
O Pedro olhou espantado para ele – Não me digas que já estás cansado da Sofia!
O Ricardo abanou a cabeça em sinal de impaciência – Não tem nada a ver com isso. Só preciso de saber quem ela é.
- OK. E estás a falar de quem?
- Aquela rapariga que desceu as escadas e se sentou. Cabelos compridos e ondulados. Tom natural.
O Pedro sorriu, fazendo um ar de entendimento – Já sei! Estás a falar da Mar.
- Quero o nome verdadeiro dela – pediu o Ricardo – Nada de nomes artísticos.
- Mas eu estou a dizer-te o nome verdadeiro dela – Mar – insistiu o Pedro – Maria do Mar. Mas porque é que estás tão interessado?
O Ricardo coçou pensativamente o queixo e ficou calado durante uns momentos. O Pedro estranhou aquele silêncio. O que se estaria a passar na cabeça dele? Era sempre difícil imaginar o que é que o Ricardo pretendia fazer a seguir. Ele era aquele tipo de pessoa que fazia o que lhe apetecia mais ou menos ao sabor do vento. Era sabido entre aqueles que eram seus amigos que não gostava de manter uma relação durante muito tempo e que punha o seu profissionalismo à frente de qualquer coisa. Muitos chamavam-lhe calculista e as mulheres diziam que ele era frio, mas fora graças à sua frieza que chegara à posição que ocupava hoje. Ele continuava calado por isso o Pedro insistiu na pergunta – Diz lá qual é o teu interesse pela miúda.
- Se ma apresentares talvez eu te possa dizer qual é o meu interesse.
O Pedro encolheu os ombros e encaminhou-se para os camarins. O Ricardo seguiu-o apressado. A porta estava entreaberta e lá dentro podia ver-se uma dúzia de pessoas entre modelos e repórteres.
- Mar! – chamou o Pedro, levantando a voz para se fazer ouvir no meio do ruído.
Uma rapariga levantou-se e caminhou indolentemente na sua direcção. Tinha uma espécie de quimono de seda vestido e o cabelo preso através de um simples elástico. Tinha um ar extremamente jovem: os olhos eram verdes e perfeitamente incrustados no rosto redondo. Os lábios eram cheios e pareciam exageradamente grandes em comparação com o resto. A pele tinha um tom claro contrastando fortemente com o abundante cabelo escuro. Estacou a uns passos deles e esperou.
- Queria apresentar-te aqui uma pessoa que mostrou imensa vontade de te conhecer – disse o Pedro.
Ela desviou o olhar para o Ricardo e fixou os seus olhos verdes nele que a observava fascinado. Ao fim de alguns segundos o rosto iluminou-se-lhe num largo sorriso – É você que me quer conhecer? – indagou ela curiosa.
O seu timbre de voz ecoou estranhamente dentro da cabeça do Ricardo; não era bem aquilo que ele esperava ouvir. O tom era baixo, quase sussurrado, e as palavras ditas pausadamente.
- É ele, é – confirmou o Pedro, apressado – Pronto Ricardo, estás à vontade. Esta é a Mar. Mar, este é o Ricardo. Sejam felizes! – virou costas e correu para a porta por onde acabavam de entrar mais algumas pessoas.
Eles riram-se e o Ricardo aproveitou o momento de descontracção para lhe falar – Desculpe tê-la incomodado mas precisava mesmo de a conhecer. A sua semelhança com uma pessoa que eu conheci é extraordinária.
- Não me incomoda nada. Fico muito contente por o conhecer.
- Não me diga!
- Mas claro! Já o conhecia de nome, é óbvio. Aliás, a maior parte dos meus amigos conhece-o, pelo menos, de nome.
O Ricardo sentiu-se a corar e ficou ligeiramente embaraçado. Era ridículo sentir-se assim diante de uma rapariguinha mas aquela não era uma rapariguinha qualquer; tinha quase a certeza que não. – Eu continuo muito admirado com a parecença que existe com uma pessoa que conheci há muito tempo. De certeza que não é uma simples coincidência de traços…
Ela interrompeu-o – Se calhar conheceu a minha mãe.
Foi como se um raio o tivesse atingido. Durante segundos tudo dançou à sua volta. Filha… mãe… o que é que aquela miúda estava a dizer? Não devia ter ouvido bem ou então era alguma terrível partida do destino e ele sempre acreditara no destino.
- Deve ser isso, não? – insistiu ela – A minha mãe chamava-se Mariana.
A vontade de Ricardo foi de começar a rir às gargalhadas. Ele devia ter adivinhado que não existiam coincidências assim. Filha dela… e ele nunca soubera.
- O que foi? - perguntou ela parecendo admirada – Disse alguma coisa que não devia?
Ele passou a mão pela testa húmida e suspirou – Não, quer dizer, talvez.
- Não estou a perceber.
- Eu conheci a sua mãe – disse ele simplesmente – Não sabia que ela tinha tido uma filha
Ela esboçou um sorriso, mas logo de seguida ficou com um semblante sério – Eu não me lembro dela. Se calhar, você conheceu-a melhor do que eu.
- Se calhar… – A voz dele deixou de se ouvir como se uma brisa a tivesse levado. Ficou calado durante largos segundos, sem conseguir coordenar as ideias.
- O que foi? Você olha para mim de uma forma tão estranha.
- Desculpe! Não é de propósito, mas não consigo evitar – justificou-se ele.
Ela sorriu e ficou também em silêncio sem saber o que dizer.
- Bem, eu vou indo – disse ele – Tenho pessoas à minha espera.
- Então até à próxima!
- Até à próxima!
Ela estendeu-lhe uma mão delgada. O Ricardo apertou-lha sentindo a suavidade da sua pele. Havia um leve aroma que se desprendia dela e que ficava a pairar no ar. Ele achou que era altura de sair dali rapidamente – Nós vemo-nos por aí – Saiu mergulhando novamente no mar de gente. Estava zonzo e a precisar urgentemente de um cigarro. Tirou o maço do bolso e puxou um para fora. Agora até os cigarros eram estilizados com motivos estranhos o que ele considerava uma estupidez já que se acabava por fumar tudo. Acendeu-o e expeliu profundamente. No espaço de uns breves minutos tinha ficado a saber coisas que ignorara anos a fio. Tinha perdido contacto com a mãe dela há muito tempo e só soubera da sua morte através de amigos, mas nunca ninguém lhe dissera que havia uma filha. Perdido nestes pensamentos não se apercebeu que a Sofia se aproximara. Ela passou-lhe os braços à volta do pescoço – Olá!
- Olá! Vamos para casa, sim?
- Casa? – perguntou ela admirada. A surpresa dela era genuína já que nunca tinham estado juntos sem ser em lugares públicos.
- Anda Sofia! Quero sair daqui – insistiu ele, impaciente.
Ela resolveu não dizer nada. Teria oportunidade de lhe perguntar o que sucedera, mais tarde."
Love and ligth!

quinta-feira, junho 21, 2007

Drive



Ao ler um texto escrito pela Maríita que ela muito bem classificou como uma «singela metáfora da vida» lembrei-me imediatamente de uma das minhas músicas favoritas cuja letra eu acho que ilustra muito bem isso mesmo: a vida.
Para quem não conhece deixo a letra.


"Sometimes, I feel the fear of uncertainty stinging clear
And I can't help but ask myself how much I'll let the fear
Take the wheel and steer
It's driven me before
And it seems to have a vague, hauting mass appeal
But lately I am beginning to find that I
Should be one behind the wheel
Whatever tomorrow brings, I'll be there
With open arms and open eyes
So if I decide to waiver my chance to be one of the hive
Will I choose water over wine and hold my own and drive?
It's driven me before
And it seems to be the way that everyone else gets around
But lately I'm beginning to find that
When I drive myself my ligth is found
So whatever tomorrow brings, I'll be there
With open arms and open eyes
Would you kill the Queen to crush the hive?
Would you choose water over wine
Hold the wheel and drive?"
(Drive by Incubus)


Love and ligth!

sexta-feira, junho 15, 2007

By nigth (II)

"A festa, como a maior parte das festas, primava pela extravagância. Havia mulheres atraentes, usando roupas completamente estranhas, uma profusão de cabelos loiros, pernas compridas e bronzeadas, música estonteante e estranhas imagens que passavam, através de algum engenhoso sistema, pelas paredes, criando um efeito assombroso. Quase todos eram nomes sonantes da noite: músicos, estilistas, modelos, cronistas, empresários… de tudo um pouco. O Ricardo acendeu um cigarro, enquanto acenava a algumas pessoas conhecidas. Expeliu uma baforada de fumo e encostou-se a uma coluna com uma forma caprichosa. O Pedro e a Sofia tinham desaparecido na multidão e da anfitriã da festa não havia sinal. Era hábito nestas festas as pessoas mal se falarem. Elas iam até este género de festas para verem e para serem vistas; não era importante o que se dizia e, na maior parte das vezes, o que se dizia podia ser resumido a frases do tipo “Estás a curtir?” ou então “Estás o máximo, hoje!”. Ao fim de alguns anos já não se respondia: esboçava-se um simples sorriso. Resolveu dar uma volta para ver se encontrava o Pedro, mas acabou foi por vislumbrar a Sofia. Ficou a observá-la por instantes: ela ria-se descontraidamente e atirava a cabeça para trás quando o fazia. Durante momentos, uma música assaltou o espírito de Ricardo e ele pareceu voltar atrás no tempo. Quantas vezes ele não vira aquela mesma cena mas com uma outra personagem? Quantas vezes ele não fora um espectador passivo sem nada poder fazer? Enquanto divagava por essas perturbantes recordações, a Sofia abeirou-se dele – Tudo bem?
- Tudo – respondeu ele sorrindo.
- Pareces aborrecido – observou ela – Não estás a gostar da festa?
Ele encolheu os ombros – Estou tão habituado a elas que já nem sei se gosto ou não.
- Bem, se estás habituado isso quer dizer que és um frequentador assíduo e se és um frequentador assíduo isso deve querer dizer que és um adepto incondicional destas festas – raciocinou ela, num jeito divertido.
- É um raciocínio interessante mas não sei se é verdadeiro – disse ele, fazendo uma expressão de dúvida.
- Claro que é! É uma espécie de silogismo.
O Ricardo olhou para ela com um ar surpreendido – Um silogismo? – repetiu.
- Não ligues! – respondeu ela despreocupadamente – Às vezes dá-me para começar a inventar. Gosto muito de reflectir sobre tudo. Espero que isso não seja um problema para ti…
Ele olhou melhor para o rosto encantador da rapariga. Os olhos eram de um azul tão intenso que quase feriam quem os olhasse insistentemente; tinha uma tez mate e um nariz arrebitado que lhe conferia um ar altivo – Claro que não! Sempre estive rodeado de pessoas com fortes inclinações metafísicas.
- Bem, eu também gosto de meditar sobre os fenómenos deste mundo – disse ela maliciosamente.
Ele suspirou.
- Estás bem? – perguntou ela.
- Acho que preciso de sair daqui. Queres acompanhar-me? – convidou ele.
Sofia olhou à sua volta como se procurasse alguém – Só me queria despedir do Pedro.
Ricardo pegou-lhe na mão e puxou-a – Esquece! Eu amanhã transmito-lhe a mensagem. A esta altura ele deve estar a tentar convencer a Cristal a adoptá-lo como novo namorado.
- E onde vamos?
- A um sítio onde se consiga respirar livremente."


Love and ligth!

terça-feira, junho 12, 2007

By nigth...

Aqueles que me acompanham quase desde o início deste blog sabem que tenho postado vários textos sobre as aventuras de uma professora virtual - a Mel; é minha intenção continuar a história dela, no entanto, como sou uma pessoa muito volátil apeteceu-me começar a postar sobre uma outra personagem - o Ricardo. Não vou dizer mais nada sobre ele; vocês vão descobrindo à medida que forem lendo (se tiverem pachorra....).
"O ambiente era estranhamente eclético e difuso. Havia pessoas completamente diferentes umas das outras: bonitas, extravagantes, perfeitamente normais, feias… de tudo um pouco. À medida que as luzes incidiam em cima dos rostos, podia-se vislumbrar o turbilhão de sentimentos que alguns reflectiam: alegria, euforia, apatia, nostalgia, ou até mesmo tristeza. Aquela era a altura em que todos se tentavam livrar das preocupações da semana ou da rotina do dia-a-dia. Desde há muito que se havia quase institucionalizado este hábito. Durante as noites do fim-de-semana, muitos cometiam actos ou loucuras impensáveis a que não se atreveriam durante a semana. Era uma espécie de ritual que se repetia sistematicamente com a precisão de um relógio afinado. O Ricardo encontrava-se encostado a um dos muitos bares espalhados por aquele lugar, numa atitude displicente. Há vários anos que ele frequentava aqueles locais, mas existiam coisas que continuavam sempre na mesma: gente atraente, mulheres disponíveis, muito álcool e alguma droga. Ele já se sentia desencantado com aqueles velhos costumes que nunca se tinham perdido. Para ele, o tempo estava a começar a passar, mas para quê mudar se ele sempre tinha vivido na noite? Os seus maiores sucessos tinha-os vivido na noite, os seus maiores amores tinham-lhe acontecido na noite e as suas mais profundas tristezas tinham tido como palco a noite. Apesar do seu semblante sombrio, muitas coisas deixavam-no contente: o seu sucesso profissional, o reconhecimento do público, a estabilidade económica, o vasto grupo de amigos mas, no entanto, tudo isso não conseguia preencher um vazio que ele sentia dentro de si. Faltava-lhe alguém especial com quem partilhar tudo isso. Ele tivera muitas mulheres mas nunca se ligara definitivamente a nenhuma. As razões nem ele próprio as conhecia bem. Agora, o tempo começava a passar a correr e cada vez mais as recordações lhe invadiam os pensamentos. As dúvidas e interrogações eram cada vez mais insistentes. Será que tinha dado o rumo certo à sua vida? Se, em determinada altura, ele tivesse agido de outro modo, poderiam as coisas ter sido diferentes? A verdade é que todas as noites, nos mais diversos sítios, ele procurava um rosto. Ao fim de tantos anos, imagens de um passado longínquo, ainda o assaltavam. Por vezes, ele não tinha dúvida nenhuma de que se não fizesse parte de um meio onde grassava a traição, a inveja, a exaltação dos prazeres efémeros, toda a sua vida podia ter inflectido num outro sentido. Ali, os interesses é que faziam girar as relações. Ficava bem conhecer determinada pessoa, era importante cumprimentar aquela outra ou ser visto com aqueloutra. Intimamente, ele desprezava esse tipo de gente. Odiava a hipocrisia reinante em determinados círculos da sociedade. Suspirou e olhou em volta, avistando o Pedro a aproximar-se acompanhado por uma mulher. Ricardo esboçou um sorriso. O Pedro andava sempre acompanhado por raparigas belíssimas.
- Mestre! Como estás? – cumprimentou o amigo, dando-lhe uma palmada nas costas à laia de saudação.
Ricardo retribuiu – Então, tudo bem? – desviou o olhar para a figura feminina ao lado dele e fixou-se nos seus olhos cintilantemente azuis.
- Ah! Já me ia esquecendo de te apresentar – desculpou-se o Pedro – Esta é a Sofia. Este é o Ricardo – acrescentou, virando-se para ela.
Os lábios da rapariga desenharam um sorriso deslumbrante – É um prazer conhecê-lo. Já ouvi falar muito de si.
- Espero que só tenha ouvido coisas boas – disse ele.
- Não és nada modesto, não! – troçou o Pedro. Deu uma olhadela rápida em redor e continuou – Ouve lá, isto já deu o que tinha a dar. E de fossemos até à festa da Cristal?
O Ricardo fez um ar surpreendido – Que festa? Não sei de nada.
- É a festa de despedida do namorado dela – informou o Pedro, ao mesmo tempo que fazia um ar travesso – Como aqui a princesa não quer nada comigo, acho que vou tentar a minha sorte com a Cristal.
- És um safado! – O Ricardo olhou mais uma vez para o rosto perfeito da rapariga, mas desta vez prolongou o olhar até ao corpo dela que estava diminutamente coberto por um vestido – OK, vamos lá até essa festa – Acontecimentos destes repetiam-se quase todas as noites, pensou ele, por isso porquê questionar? Havia sempre alguém que fazia uma festa por este ou por outro motivo qualquer e quando não havia nenhuma razão plausível, arranjava-se uma outra qualquer para comemorar. Às vezes pensava se em alguma ocasião seria capaz de ter uma vida dita normal, do género “nine to five”, mas a realidade é que também nunca tentara. Sempre fora um aventureiro e sempre gostara de viver contra o sistema. Apenas com dezassete anos, viajara sozinho para fora do país, rumo ao Oriente, e tomara contacto com modos de vida e maneiras de ser completamente diferentes daquelas a que estava habituado. Ficara-lhe sempre um fascínio por culturas remotas e gentes distantes, perdidas entre o céu e a terra. Enquanto se entregava a estes pensamentos, o seu amigo Pedro tratava de convidar todas as pessoas conhecidas que passavam a aparecer na festa da Cristal."
Love and ligth!

sexta-feira, junho 01, 2007

"Meme"

Não gosto de cadeias; sinto-me logo aprisionada. Só aceitei o desafio de postar um "meme" porque foi a minha muito querida amiga Arte que me pediu (que, por sua vez, também escreveu o seu porque respondeu também ela a um pedido de uma amiga).
A frase que vou escrever, encontrei-a há anos quando lia "O Pêndulo de Foucault" e foi retirada de um fragmento de Nag Hammadi. Gosto dela porque, para mim, encerra a dualidade, um certo maniqueísmo, a oposição que compõe tudo o que existe, inclusivé, nós próprios. Gosto dela porque sim...
« Porque eu sou a primeira e a última. Eu sou a venerada e a odiada. Eu sou a prostituta e a santa.»
Love and ligth!